Pouco mais
de um ano após a última edição, um novo caminho se abre. Desta vez, de cara,
nota-se algo diferente no ar. Além do formato, esta edição é “duas em uma”. A
Camiño di Rato normal segue por uma sala sadomaso. Pelo outro lado, ou seja, pelo
fim, começa a CdiR “especial”. Nela o conteúdo é praticamente o mesmo. O que
muda é o propósito. Já explico, antes voltemos ao caminho principal.
Por ele
temos a volta de Su&Side, miniconto de Rosemário Souza; Sem
título 2, escrita por Matheus Moura (MM) e desenhada por Vinicius
Posteraro; Pela longa estrada afora, de Guilherme Silveira (desenhos) e
MM (roteiro); Acaso existencial, com desenhos de Décio Ramírez, e
roteiro de MM; Vácuo, escrita por Gian Danton e desenhada por Luís Naza;
O último gesto, de Elmano Silva; e Dois serenatas, de Fábio
Turbay. Além disso, na parte interna há uma ilustração exclusiva do mestre
Julio Shimamoto. A capa da frente foi desenhada por Fernando Mosca, enquanto a
segunda é de Décio Ramírez – que ilustra o espaço desde a 3ª edição. É de D.
Ramírez também o trabalho que figura em um editorial, enquanto Fábio Purper
Machado fica a cargo de outro.
Todos os
quadrinhos aqui, alguns em maior e outros em menor grau, são histórias que
fogem do senso comum. São HQs construídas para, além de entreter, fazer pensar.
A maioria delas podem ser encaixadas no gênero de quadrinho chamado de
poético-filosófico. A CdiR, desde o primeiro número, dedica-se a publicar esse
tipo de material. No início era uma ou outra história. Com o passar das
edições, cada vez mais essa se tornou a tendência: ter em suas páginas um
número maior de quadrinhos poético-filosóficos – até este, a partir da 4ª
edição, culminar como sendo a linha editorial da revista.
Isso leva
ao segundo caminho deste número: o especial. Nele a proposta é publicar o
resultado “poético”, ou seja, a criação artística desenvolvida durante o
mestrado em Arte e Cultura Visual realizado por Matheus Moura Silva na
Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, entre 2011 e 2012.
Diferente das edições anteriores, esta não possui textos dos autores. A razão
disso é: como a maioria dos trabalhos publicados fazem parte da dissertação,
foi decidido que seria melhor o leitor ter acesso aos artigos sobre os
processos criativos dos autores diretamente na dissertação. Para tanto é
possível baixá-la por meio do link disponível na segunda capa ou acessá-lo
direto pelo QR Code.
Os autores
pesquisados são: Antonio Amaral, Edgar Franco e Gazy Andraus. Para quem não
conhece, Antonio Amaral é piauense, reside em Teresina, é artista plástico e
pública quadrinhos desde sempre. A partir da década de 1990 passou a investir
no seu projeto poético denominado Hipocampo – que é uma série em quadrinhos com
quatro livros lançados. As HQs aqui são únicas e estão dentro do gênero
discutido: o poético-filosófico. Edgar Franco e Gazy Andraus, são autores da
casa e participam da Camiño di Rato desde a primeira edição. Ambos são mineiros
e além de conterrâneos (de Ituiutaba), juntamente com Amaral, são alguns dos
precursores do referido gênero. Isso justifica a escolha dos três para a
pesquisa e criação conjunta.
Na
realização do trabalho, foi feito um estudo sobre processos criativos,
histórias em quadrinhos, autorialidade, linguagem das HQs, delimitação do
gênero poético-filosófico, além do detalhamento quanto à vida e obra dos três
autores destacados. Eu (MM), parto ainda das minhas próprias experiências como
criador a explicitar meu método de criação em algumas histórias.
Como
proposta para a pesquisa há ainda o fazer conjunto com os autores pesquisados.
O resultado final pode ser visto nas páginas a seguir. São duas histórias
construídas com Gazy Andraus, uma com Antonio Amaral e duas com Edgar Franco.
Há ainda uma realizada a seis mãos entre Andraus, Franco e Moura. Cada HQ foi
feita de modo diferente, a partir de algum método inusitado – para compreender
melhor é só baixar a dissertação.
Como
“consideração final” posso dizer que a criação artística, ainda mais de
quadrinhos tão dispares como esses, se dá mais pela exteriorização do
inconsciente por meio da intuição, do que de modo racional e bem delineado.
Essas, então, são histórias que surgem como aspectos do real (seja ele ideário)
intrínseco a cada autor. Assim, o sentido transmitido pela mensagem acaba por
dizer mais do autor e do seu entorno, do que dos personagens e suas situações.
Por consequência, essas HQs dirão também sobre quem lê, pois cada interpretação
realizada após a leitura será determinada pelo que foi sentido aliado ao
próprio repertório do leitor.
Camiño di Rato
Formato: 15 x 23 cm
Preço: R$ 4,00
Cores e preto e branco.
Impresso artesanalmente por Marcatti.
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