quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Camiño di Rato 6 traz HQs que fogem do senso comum


            Pouco mais de um ano após a última edição, um novo caminho se abre. Desta vez, de cara, nota-se algo diferente no ar. Além do formato, esta edição é “duas em uma”. A Camiño di Rato normal segue por uma sala sadomaso. Pelo outro lado, ou seja, pelo fim, começa a CdiR “especial”. Nela o conteúdo é praticamente o mesmo. O que muda é o propósito. Já explico, antes voltemos ao caminho principal.
            Por ele temos a volta de Su&Side, miniconto de Rosemário Souza; Sem título 2, escrita por Matheus Moura (MM) e desenhada por Vinicius Posteraro; Pela longa estrada afora, de Guilherme Silveira (desenhos) e MM (roteiro); Acaso existencial, com desenhos de Décio Ramírez, e roteiro de MM; Vácuo, escrita por Gian Danton e desenhada por Luís Naza; O último gesto, de Elmano Silva; e Dois serenatas, de Fábio Turbay. Além disso, na parte interna há uma ilustração exclusiva do mestre Julio Shimamoto. A capa da frente foi desenhada por Fernando Mosca, enquanto a segunda é de Décio Ramírez – que ilustra o espaço desde a 3ª edição. É de D. Ramírez também o trabalho que figura em um editorial, enquanto Fábio Purper Machado fica a cargo de outro.
            Todos os quadrinhos aqui, alguns em maior e outros em menor grau, são histórias que fogem do senso comum. São HQs construídas para, além de entreter, fazer pensar. A maioria delas podem ser encaixadas no gênero de quadrinho chamado de poético-filosófico. A CdiR, desde o primeiro número, dedica-se a publicar esse tipo de material. No início era uma ou outra história. Com o passar das edições, cada vez mais essa se tornou a tendência: ter em suas páginas um número maior de quadrinhos poético-filosóficos – até este, a partir da 4ª edição, culminar como sendo a linha editorial da revista.
            Isso leva ao segundo caminho deste número: o especial. Nele a proposta é publicar o resultado “poético”, ou seja, a criação artística desenvolvida durante o mestrado em Arte e Cultura Visual realizado por Matheus Moura Silva na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, entre 2011 e 2012. Diferente das edições anteriores, esta não possui textos dos autores. A razão disso é: como a maioria dos trabalhos publicados fazem parte da dissertação, foi decidido que seria melhor o leitor ter acesso aos artigos sobre os processos criativos dos autores diretamente na dissertação. Para tanto é possível baixá-la por meio do link disponível na segunda capa ou acessá-lo direto pelo QR Code.
            Os autores pesquisados são: Antonio Amaral, Edgar Franco e Gazy Andraus. Para quem não conhece, Antonio Amaral é piauense, reside em Teresina, é artista plástico e pública quadrinhos desde sempre. A partir da década de 1990 passou a investir no seu projeto poético denominado Hipocampo – que é uma série em quadrinhos com quatro livros lançados. As HQs aqui são únicas e estão dentro do gênero discutido: o poético-filosófico. Edgar Franco e Gazy Andraus, são autores da casa e participam da Camiño di Rato desde a primeira edição. Ambos são mineiros e além de conterrâneos (de Ituiutaba), juntamente com Amaral, são alguns dos precursores do referido gênero. Isso justifica a escolha dos três para a pesquisa e criação conjunta.
            Na realização do trabalho, foi feito um estudo sobre processos criativos, histórias em quadrinhos, autorialidade, linguagem das HQs, delimitação do gênero poético-filosófico, além do detalhamento quanto à vida e obra dos três autores destacados. Eu (MM), parto ainda das minhas próprias experiências como criador a explicitar meu método de criação em algumas histórias.
            Como proposta para a pesquisa há ainda o fazer conjunto com os autores pesquisados. O resultado final pode ser visto nas páginas a seguir. São duas histórias construídas com Gazy Andraus, uma com Antonio Amaral e duas com Edgar Franco. Há ainda uma realizada a seis mãos entre Andraus, Franco e Moura. Cada HQ foi feita de modo diferente, a partir de algum método inusitado – para compreender melhor é só baixar a dissertação.
            Como “consideração final” posso dizer que a criação artística, ainda mais de quadrinhos tão dispares como esses, se dá mais pela exteriorização do inconsciente por meio da intuição, do que de modo racional e bem delineado. Essas, então, são histórias que surgem como aspectos do real (seja ele ideário) intrínseco a cada autor. Assim, o sentido transmitido pela mensagem acaba por dizer mais do autor e do seu entorno, do que dos personagens e suas situações. Por consequência, essas HQs dirão também sobre quem lê, pois cada interpretação realizada após a leitura será determinada pelo que foi sentido aliado ao próprio repertório do leitor.
           

Camiño di Rato

Formato: 15 x 23 cm
Preço: R$ 4,00
Cores e preto e branco.
Impresso artesanalmente por Marcatti.

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