Quando conheci Afonso, aos 14 anos, eu só tinha lido um livro,Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida. Afonso já tinha lido todo Lobato, infantil e adulto, alguns livros de Freud e estava começando a ler Jung em edições bonitas, encadernadas, que ornavam a sala de sua casa.
Essas três coleções tinham história. Haviam pertencido ao seu padrinho, sargento do exército. Em plena ditadura, era um militar de esquerda. Um dia bateu na porta da família do afilhado com caixas repletas dessas coleções:
- Me descobriram. Eu vou sumir. Esses livros ficam de presente para o Afonso.
Nunca mais ouviram falar dele. Não se sabe se foi pego pelos órgãos de repressão, ou se fugiu para outro país.
Afonso tinha um ciúme atroz desses volumes encadernados. Coisa de colecionador. Mostrava o que estava lendo, comentava, lia um trecho, mas não me deixava nem tocar no exemplar. Leia mais
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