sábado, setembro 28, 2013

O enígma de Kaspar Hauser

Kaspar Hauser foi uma criança achada em uma praça de uma cidade da Alemanha cuja história mudou a maneira como os estudiosos viam o ser humano e a educação.
Aparentemente de origem nobre, ele teria sido abandonado por sua mãe nas mãos de um homem que não sabia como criá-lo e o prendeu em uma cela, dando-lhe apenas água e pão todos. Como o alimento e a bebida eram colocados lá enquanto ele estava dormindo, Kaspar passou anos sem nenhum tipo de contato humano. Aos 15 anos, o homem que o adotou resolveu dispensá-lo e deixou-o no centro de Nuremberg com uma carta e um livro de orações.
Para os moradores tratava-se de um enigma: ninguém sabia de onde ele viera ou como chegara ali. O rapaz não sabia andar, praticamente não falava, não se sentava, não sentia medo, não sabia rir ou chorar e só comia pão e bebia água, recusando qualquer outro tipo de alimento. Kaspar não sabia nem mesmo distinguir sonho de realidade.
Houve quem acreditasse que se tratava de alguém com problemas mentais, mas Kaspar Hauser aprendia facilmente quando era ensinado. Aprendeu a tocar piano e até escreveu sua auto-biografia.
Seu caso demonstrou que muitos de nossos comportamentos que parecem inatos, como o medo, o choro ou o riso, são na verdade aprendidos e abriu caminho para boa parte da antropologia moderna. Também influenciou a pedagogia ao mostrar que o ser humano aprende a todo instante, em contato com os outros.
O caso deu origem ao filme O enígma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog, de 1975.
Herzog faz mais do que contar a história do garoto abandonado. Seu filme é uma metófora do processo de aprendizado humano. A cena em que Kaspar é abandonado na praça, por exemplo, é emblemática: ele fica lá, parado, incapaz de agir, de sair do estado em que o deixaram. Por outro lado, um boi, amarrado a uma árvore, tenta se libertar. Sem contato humano e sem aprendizado, Kaspar é menos que o boi. Ou seja: sem educação não somos nada.
Em outra cena, já na cidade, a imagem de Kaspar em suas dificuldades ganha contraponto com o bebê da família, que já sabe chorar para pedir alimento à mãe.
Por outro lado, Herzog utliza o caso para criticar a sociedade e as cegueiras dos paradigmas, como quando um professor propõe para Kaspar um enigma lógico e este o soluciona de maneira criativa, mas não convencional, de modo que o professor "não pode aceitar aquela resposta".
O enígma de Kaspar Hauser é um filme lento, em certo sentido até difícil, mas essencial para todos aqueles que queiram entender a natureza humana. Filme obrigatório para estudantes de licenciaturas e professores.

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