sexta-feira, fevereiro 19, 2016
sábado, fevereiro 13, 2016
O que é uma teoria?
É comum ouvir dos detratores da teoria da evolução a frase: "A evolução é apenas uma teoria". Com isso eles querem dizer que a teoria da evolução não é científica, ou é apenas imaginação, ou ainda que é falsa.
Mas o que é uma teoria? Para entender o que é uma teoria é importante entender o que é o método científico. Atualmente um dos guias mais aceitos pela ciência é o hipotético-dedutivo, de Karl Popper. Popper dizia que só é ciência aquilo que pode ser falseável, aquilo que passa pelo teste do falseamento.
O cientista faz uma hipótese qualquer (Todos os cisnes são brancos, por exemplo) e vai a campo testar essa hipótese, procurando provas de que ela é falsa .
Se a hipótese sobrevive a esse teste de falseamento, ela deixa de ser uma hipótese e torna-se uma teoria. Isso significa que aquele conhecimento é para sempre, que uma teoria é uma verdade eterna e incontestável? Não.
Em ciência, nada é para sempre. O que é verdade hoje, pode ser falseado amanhã. Mesmo uma teoria que tenha sobrevivido durante séculos, pode cair diante de um novo dado.
Em outras palavras: na ciência TUDO É TEORIA. Mesmo as chamadas leis, fenômenos regulares que parecem mais do que comprovados (como a gravitação) podem um dia ser falseados (quem sabe um dia descobrimos uma parte do universo que nos mostre que a explicação de Newton estava errada?).
Essa é a diferença entre ciência e religião: a religião trata de um conhecimento eterno, imutável, incontestável, baseado essencialmente na fé. Quem acredita que o universo foi criado por deus em seis dias vai morrer acreditando nisso. Religião não precisa de observação empírica. Você não precisa ver Deus para acreditar em Deus. Ninguém diz: "Ah, claro, eu acredito em Deus. Ontem mesmo encontrei com ele no ônibus".
Já a ciência trata de um conhecimento transitório, mutável, contestável, baseado na observação. Ou seja: a ciência muda o tempo todo. O que é verdade hoje, pode não ser verdade amanhã de acordo com novas observações.
Então: sim, a evolução é apenas uma teoria. Da mesma forma que a teoria dos jogos, que a teoria do caos, que a teoria da gravitação universal. Se você quer ciência, aceite que tudo é teoria, transitório, contestável. Se quiser verdades universais, busque a religião.
terça-feira, fevereiro 09, 2016
A proposta libertária
Dias desses fiz uma postagem sobre o juiz parado na blitz da lei seca que processou a agente de trânsito que disse que ele não era Deus (recentemente a sentença foi confirmada e a agente terá de pagar 5 mil reais de indenização ao juiz). Para meu espanto, alguém viu a postagem e comentou que o tal juiz era um anarquista. Mais: defendeu que a corrupção que vemos hoje é resultado do anarquismo. Chegou a dizer que estávamos rumando para uma ditadura anarquista. Seria mais ou menos como dizer que vegetarianos têm como objetivo fazer as pessoas comerem carne. Expliquei (ou ao menos tentei) a ele o equívoco do uso da expressão só para descobrir que ele era um defensor da “intervenção militar constitucional”. Ao final, deixou uma ameaça: “Quando acontecer a intervenção, saberei onde te encontrar”.
Embora seja interpretado equivocadamente como sinônimo de bagunça, desordem e até de ditadura (razão pela qual muitos preferem a expressão “libertário”), o anarquismo é uma doutrina política heterogênea que engloba os mais variados grupos e filosofias, que vão do socialismo revolucionário ao capitalismo. O anarquismo capitalista, por exemplo, é representado pelo libertarianismo, uma corrente neo-liberal que prega a ideia de estado mínimo e imposto mínimo, com mínima intervenção do estado na vida dos indivíduos e na economia. Outro exemplo é Gandhi, que foi fortemente influenciado pelos ideias anarquista e tornou célebre a estratégia da resistência civil e da não-violência (vale lembrar que Gandhi nunca quis ocupar nenhum cargo público).
Unindo essas diversas correntes, uma ideia básica: a de que o estado será sempre ocupado por pessoas que usaram o poder em benefício próprio e que quanto mais concentrado o poder estiver nas mãos de algumas pessoas, pior será para a sociedade. Em contrapartida, quanto mais distribuído o poder, melhor para todos. Em outras palavras: a ideologia libertária é o oposto do fascismo, seja ele de direita ou esquerda.
Filosoficamente podemos remontar às teorias de Hobbes e Rousseau.
Hobbes argumentava que o homem é o lobo do próprio homem. De forma simplista: o homem é mau. Se não houver alguém fiscalizando-o, impedindo-o de praticar o mal, o homem inevitavelmente irá enveredar pelas maiores barbaridades. Esse pensamento, na época, serviu de desculpa para os regimes absolutistas. Se o homem é mau, justifica-se a existência de um rei todo poderoso para manter a sociedade sob controle e impedir que as pessoas se matem umas às outras. Essa é a premissa básica do fascismo.
Rousseau, ao contrário, dizia que o homem é, originalmente bom. Se ele se torna mau, é porque foi corrompido pela sociedade. Em outras palavras: as próprias estruturas criadas para impedir a maldade humana, na verdade acabavam provocando-a.
Em outras palavras: o poder corrompe e quanto mais poder alguém tiver, mais corrupta essa pessoal será. A ideia básica da proposta libertária é de que o poder é uma droga, que vicia, e o viciado fará de tudo para permanecer no poder. O fascismo é baseado na coersão. Essa coerção pode ser a simples ameaça de violência física ou, o que é muito mais efetivo, a ameaça de não pertencer ao grupo. Relatos de observadores do nazismo dizem que os comícios de Hitler eram pensados para criar um sentimento grandioso de grupo e fazer com que os que não pertenciam a esse grupo se sentissem excluídos e culpados. A “grande Alemanha estava sendo construída” e quem não era nazista estava de fora desse sentimento.
Um exemplo dessa conformidade ao grupo foi a experiência levada a cabo pelo psicólogo Solomon Asch na década de 1950. Ele reunia em uma sala oito pessoas, oito das quais eram atores orientados a dar respostas erradas. Em seguida, eram mostrados dois cartões. Um deles mostrava uma linha e, no outro, três linhas de tamanhos diversos, uma das quais era igual ao do outro cartão. O psicólogo perguntava qual era a linha que correspondia ao tamanho do outro cartão. Ao verem todo o grupo darem a resposta errada, mesmo em uma situação tão clara, a maioria das pessoas acompanhava o grupo. Apenas 25% contrariava o grupo e dava respostas certas.
O experimento mostrou como a coerção do grupo pode levar as pessoas a fazerem algo nitidamente errado. É impossível ler sobre esses e outros experimentos sem lembrar a ideia de Rousseau, de que o ser humano é corrompido pela sociedade. Quanto maior a concentração de poder dessa sociedade, maior o poder de uma ou algumas poucas pessoas terão sobre o grupo e maior a coerção que exercerão.
Se o fascismo é baseado na coerção, a proposta libertária é baseada na consensualidade. A liberdade individual, inclusive liberdade de pensamento, é um elemento mais relevante que a adesão ao grupo. A pessoa participa do grupo porque quer, não porque foi coagida a isso.
O fascismo é a base ideológica de todas as ditaduras e regime totalitários, tanto de esquerda quanto de direita. Já a visão libertária deu origem desde o movimento de resistência civil de Gandhi e Martin Luther King às proposta de democracia semi-direta, como na Suécia e Suíça, em que cidadãos comuns podem propor leis e até pedir o impeachment de governantes. Não por acaso, a Suíça era a terra natal de Rousseau.
Embora seja interpretado equivocadamente como sinônimo de bagunça, desordem e até de ditadura (razão pela qual muitos preferem a expressão “libertário”), o anarquismo é uma doutrina política heterogênea que engloba os mais variados grupos e filosofias, que vão do socialismo revolucionário ao capitalismo. O anarquismo capitalista, por exemplo, é representado pelo libertarianismo, uma corrente neo-liberal que prega a ideia de estado mínimo e imposto mínimo, com mínima intervenção do estado na vida dos indivíduos e na economia. Outro exemplo é Gandhi, que foi fortemente influenciado pelos ideias anarquista e tornou célebre a estratégia da resistência civil e da não-violência (vale lembrar que Gandhi nunca quis ocupar nenhum cargo público).
Unindo essas diversas correntes, uma ideia básica: a de que o estado será sempre ocupado por pessoas que usaram o poder em benefício próprio e que quanto mais concentrado o poder estiver nas mãos de algumas pessoas, pior será para a sociedade. Em contrapartida, quanto mais distribuído o poder, melhor para todos. Em outras palavras: a ideologia libertária é o oposto do fascismo, seja ele de direita ou esquerda.
Filosoficamente podemos remontar às teorias de Hobbes e Rousseau.
Hobbes argumentava que o homem é o lobo do próprio homem. De forma simplista: o homem é mau. Se não houver alguém fiscalizando-o, impedindo-o de praticar o mal, o homem inevitavelmente irá enveredar pelas maiores barbaridades. Esse pensamento, na época, serviu de desculpa para os regimes absolutistas. Se o homem é mau, justifica-se a existência de um rei todo poderoso para manter a sociedade sob controle e impedir que as pessoas se matem umas às outras. Essa é a premissa básica do fascismo.
Rousseau, ao contrário, dizia que o homem é, originalmente bom. Se ele se torna mau, é porque foi corrompido pela sociedade. Em outras palavras: as próprias estruturas criadas para impedir a maldade humana, na verdade acabavam provocando-a.
Em outras palavras: o poder corrompe e quanto mais poder alguém tiver, mais corrupta essa pessoal será. A ideia básica da proposta libertária é de que o poder é uma droga, que vicia, e o viciado fará de tudo para permanecer no poder. O fascismo é baseado na coersão. Essa coerção pode ser a simples ameaça de violência física ou, o que é muito mais efetivo, a ameaça de não pertencer ao grupo. Relatos de observadores do nazismo dizem que os comícios de Hitler eram pensados para criar um sentimento grandioso de grupo e fazer com que os que não pertenciam a esse grupo se sentissem excluídos e culpados. A “grande Alemanha estava sendo construída” e quem não era nazista estava de fora desse sentimento.
Um exemplo dessa conformidade ao grupo foi a experiência levada a cabo pelo psicólogo Solomon Asch na década de 1950. Ele reunia em uma sala oito pessoas, oito das quais eram atores orientados a dar respostas erradas. Em seguida, eram mostrados dois cartões. Um deles mostrava uma linha e, no outro, três linhas de tamanhos diversos, uma das quais era igual ao do outro cartão. O psicólogo perguntava qual era a linha que correspondia ao tamanho do outro cartão. Ao verem todo o grupo darem a resposta errada, mesmo em uma situação tão clara, a maioria das pessoas acompanhava o grupo. Apenas 25% contrariava o grupo e dava respostas certas.
O experimento mostrou como a coerção do grupo pode levar as pessoas a fazerem algo nitidamente errado. É impossível ler sobre esses e outros experimentos sem lembrar a ideia de Rousseau, de que o ser humano é corrompido pela sociedade. Quanto maior a concentração de poder dessa sociedade, maior o poder de uma ou algumas poucas pessoas terão sobre o grupo e maior a coerção que exercerão.
Se o fascismo é baseado na coerção, a proposta libertária é baseada na consensualidade. A liberdade individual, inclusive liberdade de pensamento, é um elemento mais relevante que a adesão ao grupo. A pessoa participa do grupo porque quer, não porque foi coagida a isso.
O fascismo é a base ideológica de todas as ditaduras e regime totalitários, tanto de esquerda quanto de direita. Já a visão libertária deu origem desde o movimento de resistência civil de Gandhi e Martin Luther King às proposta de democracia semi-direta, como na Suécia e Suíça, em que cidadãos comuns podem propor leis e até pedir o impeachment de governantes. Não por acaso, a Suíça era a terra natal de Rousseau.
domingo, fevereiro 07, 2016
O que o carnaval pode aprender com a zombie walk?
Zombie Walk é um evento que ocorre em Curitiba todo ano na época do carnaval (afinal, o carnaval em curitiba é "morto-vivo!).
É um evento família, cheio de crianças. Álcool e drogas são desestimulados (algumas pessoas estavam bebendo, mas não era nada ostensivo, nitidamente não era esse o objetivo das pessoas que estavam ali) e, embora houvesse um carro de som, não havia som alto, nada que incomodasse.
Este ano não foi registrada nenhuma ocorrência. Também não havia nudez.
Em suma: era um evento que você poderia ir com a família inteira e curtir, fazer maquiagem (havia várias mesas de pessoas que ofereciam o serviço), fotografar, apreciar a criatividade das fantasias.
Também é um evento barato, que gasta pouquíssimo dinheiro público. O carro de som, cartazes nas paradas, nada comparado os milhões gastos nos desfiles de carnaval - afinal, a maior atração eram as próprias pessoas que participavam.
Um evento barato, divertido, seguro, familiar. Quem dera o carnaval também fosse assim.
quinta-feira, fevereiro 04, 2016
A solução para a adoção por casais gays
O Brasil tem 150 mil crianças órfãos, esperando por adoção. Bolsonaro tem 500 mil eleitores só no Rio de Janeiro. Se cada um adotasse uma criança, não sobrava uma única criança para ser adotada por um gay.
Se Bolsonaro realmente estivesse interessado no bem-estar dessas crianças era muito fácil resolver o problema.
Se Bolsonaro realmente estivesse interessado no bem-estar dessas crianças era muito fácil resolver o problema.
terça-feira, fevereiro 02, 2016
Um quarteto clássico
Quem hoje em dia vê o Quarteto Fantástico naufragar no
cinema filme após filme dificilmente poderia imaginar que esse pequeno grupo de
super-heróis foi durante muito tempo o que havia de mais interessante e
revolucionário nos quadrinhos americanos de super-heróis. A coleção histórica
Marvel, recentemente lançada pelo Panini, serve como exemplo disso.
O Quarteto surgiu em 1961, graças a uma partida de golfe.
Martin Goodman, dono da Marvel (que na época chamava-se Atlas) jogava com Jack
Liebowitz, dono da National (atual DC Comics) e Liebowtiz se vangloriou que a
revista da Liga da Justiça, lançada recentemente, estava se tornando um sucesso
absoluto entre os jovens leitores.
Goodman correu para a Marvel e pediu para seu editor-chefe,
Stan Lee, que criasse um grupo de heróis aos moldes a Liga: unindo heróis da
Era de Ouro.
Lee, à essa altura, estava pensando em abandonar os
quadrinhos e se dedicar à literatura. Queria propor algo diferente, mas achava
que o chefe não iria aceitar. Foi sua esposa que o encorajou a apresentar a
nova ideia. Afinal, o máximo que poderia acontecer seria ele ser demitido, algo
que ele já queria.
A ideia de Lee era um grupo totalmente diferente de heróis,
humanizados, com histórias dotadas de cronologia e que nem mesmo usavam
uniformes ou máscaras (posteriormente eles usariam um informe azul, mas sem
máscaras). Surpreendentemente, o dono da Atlas aceitou e assim surgiu o
Quarteto Fantástico.
Além da continuidade,
dos heróis bidimensionais (em oposição aos heróis unidimensionais da DC da
época), Stan Lee e Jack Kirby criaram uma série de tirar o fôlego, em que a
ação acontecia de maneira ininterrupta e ganchos e mais ganchos seguravam o
leitor e o deixavam se fôlego.
Provavelmente o melhor exemplo disso seja o volume dois da
coleção histórica, dedicado aos confronto do Quarteto com Galactus. Dizem que a
sinopse, escrita por Stan Lee para a história foi: “O Quarteto enfrenta Deus!”.
E de fato era um deus, um ser tão poderoso que se alimentava de planetas. Essa
história elevou o nível dos vilões. Se antes eles queriam roubar um banco, ou
dominar um país, esse singrava as estrelas e tinha tanta consideração pela
humanidade quanto um ser humano tinha por uma formiga.
O volume apresenta histórias de duas fases, ambas escritas
por Lee, mas com dois desenhistas diferentes. Na primeira fase, Jack Kirby
imprime seu traço simples, mas potente, de ação pura. Na segunda fase, John
Buscema imprime elegância aos desenhos e dá o visual que seria definitivo do
Surfista Prateado, que havia sido colocado na primeira história como um simples
coadjuvante, que deveria desaparecer depois. Dizem que Stan Lee viu o desenho e
viu ali um ser nobre, um profeta ou filósofo das estrelas, mas essa nobreza só
foi alcançada no traço de Buscema em um trabalho tão fantástico que deu origem
à revista do personagem, de vida curta, mas que virou cult entre os
leitores.
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