Quando morávamos em Belém, eu o amigo Alan Noronha costumávamos conversar sobre nossos futuros filhos. Como deveriam ser, como não poderiam ser etc. No final, sempre uma conclusão: como quer que fossem, aceitaríamos bem, desde que não fossem fascistas.
Na época não tínhamos filhos, mas um garoto-prodígio que conhecíamos fazia as vezes de filho substituto. O Charles desenhava incrivelmente bem com 14 anos, aprendera japonês sozinho, era um superdotado óbvio. Talvez por não ter tido filhos, o Alan continuou tendo-o como um filho por muitos e muitos anos, mantendo contato, aconselhando-o.
Embora eu tenha me afastado fisicamente, sempre me lembrava com carinho do garoto superdotado que conhecemos em Belém e que parecia ter um grande futuro pela frente. Assim, foi com muita tristeza que tanto eu quanto o Alan o vimos transformar-se, pouco a pouco, num fascista, deixando-se seduzir pelo canto da sereia do autoritarismo bolsonariano.
É triste ver alguém brilhante ir trilhando os caminhos da irracionalidade e do fanatismo político, na ideia de um salvador da pátria que, obedecido cegamente, irá livrá-lo de todos os problemas. Tive que bloqueá-lo. Depois o Alan.
Agora é com tristeza que o vejo comentando em meu blog em um post em que explico o que é uma teoria científica. E ele: "seus artigos são como um crime contra a humanidade". Pelo comentário, vejo que ele já foi totalmente dominado pela irracionalidade e fanatismo a ponto de achar a ciência e o método científico um crime. É triste ver alguém que parecia ter tanto futuro, alguém que considerávamos um filho, descer a esse nível.
3 comentários:
Quanta frescura...
Disse que seu artigo é um crime contra a humanidade por ser ruim demais. Foi só um exagero hiperbólico. (você não é escritor?)
Pois veja você mesmo: "a religião trata de um conhecimento eterno, imutável, incontestável, baseado essencialmente na fé."
O senhor nunca ouviu falar sobre a filosofia escolástica e o esforço desta em articular fé cristã e pensamento aristotélico?
Leia Santo Agostinho e conclua isto sozinho.
Charles, ao criticar meu artigo e, agora, ao tentar se explicar, você revela os mesmos traços que tenho visto em vários outros bolsonarinhos: generalizar, exagerar, distorcer fatos - da mesma forma que fez Bolsonaro com o livro comprado em livraria que ele diz ter sido adotado em escolas. Sobre a questão da escolástica, vamos lá: Aristóteles foi simplesmente proibido no mundo cristão durante séculos justamente porque sua filosofia contrariava os preceitos cristãos de conhecimento eterno, imutável, incontestável e baseado na fé, e não na observação. Para que Aristóteles fosse aceito na sociedade cristã, Sto Agostinho precisou cristianizá-lo. Graças ao seu malabarismo puramente lógico ele conseguiu convencer os doutores de que Aristóteles era um cristão antes do cristianismo. Louvável, mas não totalmente dentro do que faria Aristóteles - e mesmo assim, essa visão menos doutrinária enfrentou grande resistência muito bem demonstrada no filme O nome da rosa, cujo vilão é justamente alguém que acredita que todo o conhecimento já está dado e não precisa ser investigado. Entretanto, devemos admitir, a adoção de Aristóteles no Ocidente permitiu que a filosofia e a ciência finalmente se descolassem da teologia, deixando para a religiões as questões da fé. Citar St Agostinho para defender Bolsonaro é injusto com o grande filósofo, que enfrentou forte resistência de conservadores como Bolsonaro.
Aristóteles só foi aceito pela igreja porque o questionamento filosófico foi substituído pela certeza: Deus existe.
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