Nós
temos a tendência de acreditar na fotografia como uma reprodução do real. Fotografar
algo é atestar sua veracidade. Não é à toa que a primeira teoria do jornalismos
chamava-se teoria do espelho: acreditava-se que o texto jornalístico deveria ser
como a fotografia, que é “um mero espelho dos fatos”.
Outra
demonstração desse poder da fotografia como reafirmador da realidade são as
fotos de discos voadores. Sua presença “são apresentadas como prova de que a
presença de naves espaciais entre nós é real.
Essa
é a grande inovação do livro O orfanato da Srta Peregrine para crianças
peculiares, de Ranson Riggs: o autor usa fotografias como forma de dar
verossimilhança à narrativa.
Na
história, um rapaz é fascinado pelo avô, que lhe conta histórias fantásticas
sobre o tempo que viveu num orfanato para pessoas com estranhas habilidades, na
época da II Guerra Mundial.
E,
para prová-las, mostra fotos. Apesar de serem montagens fáceis, essas fotos
reforçam a narrativa, ajudam o leitor a acreditar no que estar sendo dito.
Depois,
quando o narrador desconfia da autenticidade, o leitor desconfia junto e,
quando finalmente as fotos se revelam reais, o leitor finalmente acredita nelas
como prova de realidade.
Esse
jogo é habilmente trabalhado por Riggs, fazendo com que o leitor se sinta
imerso numa história hiper-real, plenamente crível. Essa é uma das razões pelas
quais o livro é melhor que o filme: no cinema, a fotografia perde seu caráter de
reafirmador da verossimilhança da narrativa e se torna um mero assessório.
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