Segundo
a enciclopédia Larousse Cultural, “o código é um sistema de probabilidades que,
aplicado a um sistema desordenado (entrópico ou caótico), reduz as
possibilidades de ocorrência caótica de eventos, facilitando a comunicação”
(Larousse Cultural, 1987, 1489)
A
citação pode parecer complicada, mas não é. Para começar, vamos nos ater ao
objetivo. O código tem como objetivo facilitar a comunicação. Ou seja, sempre
que emitimos algum tipo de comunicação, utilizamos um código, ou nossa mensagem
não seria compreendida.
Mesmo
quando fazemos um gesto (de adeus, por exemplo) estamos usando um código.
As
diferenças de código gestual já provocaram até um incidente diplomático. Um
presidente norte-americano, em visita ao Brasil, fez, para os jornalistas, um
sinal com a mão que consistia em juntar o polegar e o indicador em círculo,
deixando estendidos os outros dedos.
No
código gestual norte-americano, esse gesto representa OK, mas no Brasil o sinal
tem forte conotação obscena.
O
corpo humano tem a possibilidade de realizar os mais variados tipos de
movimentos. Se todos eles fossem portadores de mensagens, estaríamos diante de
um estado entrópico, ou caótico, em que tudo é válido.
Assim,
poderíamos um dia dar tchau balançando a mão aberta e, no outro, rodopiando o
pé, ou abanando as orelhas. E, na semana seguinte, esses mesmos sinais poderiam
ter outros significados.
Não
é necessário ser um expert em cibernética ou semiótica para compreender que um
tal estado de coisas, em que pode tudo, não seria favorável a uma comunicação
eficaz.
Se
encontro alguém na rua e ele me abana as orelhas, como poderei saber qual é a
mensagem que ele quer, de fato, transmitir?
(ele poderia estar abanando as orelhas sem qualquer objetivo de
estabelecer uma comunicação).
É
necessário haver um conjunto de regras que organize as várias possibilidades de
sinais, nos dizendo o que pode e o que não pode, quais sinais têm significado e
quais não têm.
No
código gestual brasileiro, por exemplo, abanar as orelhas não tem significado
nenhum.
O código diminui consideravelmente as possibilidades
de transmissão de mensagens de um canal.
Como
já dissemos anteriormente, um macaco datilografando é um exemplo de entropia.
Ele utiliza todas as possibilidades combinatórias dos sinais que estão à sua
disposição.
O
primata pode, por exemplo, escrever uma mensagem do tipo:
RZHPOITQAAJ
O
texto é muito informativo, mas não comunica nada, pois não respeita as regras
de combinação (sistema de probabilidades) da língua portuguesa.
Em
português, quando temos a letra Q, há uma probabilidade enorme de que a letra
seguinte seja um U acompanhado de uma das seguintes vogais: A, E, O, I.
Assim,
a combinação QA não é possível.
Também
de acordo com o código língua portuguesa, as consoantes são geralmente
acompanhadas de uma vogal. Dessa forma, ao vermos um R, intuímos que a seguinte
será uma vogal, como em RATO.
O
encontro RZ não é aceito pelo código e a probabilidade dele ocorrer é mínima.
Diante
das letras S, C, A e A, algumas combinações se revelam possíveis, outras não.
CASA
é um agrupamento possível, assim como SACA, mas SCAA é uma mensagem
completamente entrópica, a não ser que seja a sigla de uma entidade, por
exemplo.
O
código diminui consideravelmente a possibilidade informativa do canal,
introduzindo redundância nela como uma forma de protegê-la contra o ruído e a
entropia.
Para
visualizar a noção de código, vamos imaginar um canal simples: quatro lâmpadas.
(exemplo extraído de Epstein, 1986)
Imaginemos
que essas quatro lâmpadas sejam usadas para transmitir ao piloto de um avião as
seguintes mensagens: TREM DE POUSO FUNCIONANDO e TREM DE POUSO COM DEFEITO.
O
leitor implicante irá me perguntar: por que usar quatro lâmpadas se eu posso
transmitir a mesma mensagem com apenas uma?
De
fato, esse é o sistema utilizado em um carro, por exemplo. Algumas funções
internas do veículos são transmitidas ao condutor através de uma única lâmpada.
É o que ocorre, por exemplo, com o fluído de freio. Se o fluído de freio está
normal, a lâmpada permanece apagada. Se ela acende, é porque há algum problema.
Acontece
que há uma diferença brutal entre o resultado de uma falha de comunicação em um
carro e um avião.
Se a
lâmpada do fluído de freio estiver queimada, o motorista, ainda assim, tem
condições de descobrir que há algo errado (o freio começa a falhar, por exemplo)
e parar o carro no acostamento.
No
avião, não há tal possibilidade. Uma única falha de comunicação pode provocar
um acidente no qual morrerão dezenas de pessoas.
Como
vimos no capítulo sobre redundância, quanto maior a importância da mensagem e quanto
mais grave a conseqüência de um possível ruído, maior deve ser a redundância
empregada.
Para
isso, usa-se quatro lâmpadas em nosso exemplo: a falha em uma delas não irá
prejudicar a transmissão da mensagem.
Diante
das quatro lâmpadas, temos de estabelecer um código, um conjunto de regras para
a transmissão da mensagem.
O
canal quatro lâmpadas permite 16 combinações possíveis. Usá-las todas seria
equivalente a um estado entrópico/caótico. O mesmo que um macaco brincando com
uma máquina de escrever.
Para
evitar isso, reduzimos para apenas duas as combinações possíveis. Assim: as
duas primeiras lâmpadas acesas e as outras apagadas significa TREM DE POUSO
FUNCIONANDO e as duas primeiras apagas e as outras acesas significa TREM DE
POUSO COM DEFEITO.
Caso
ocorra um ruído (uma lâmpada queimada, por exemplo), ainda assim o receptor
terá capacidade de receber a mensagem e perceberá que a lâmpada queimada é um
ruído, não uma parte da mensagem.
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