Magaroh Maruyama percebeu que conceituamos a informação
de acordo com a forma como organizamos o universo à nossa volta. Assim, ele
propôs uma classificação da informação em
três universos: o universo classificador, o universo relacional e o universo
relevante.
Universo
classificador
Esse
é o tipo de informação mais importante para as culturas ocidentais. Talvez isso
se deva à grande influência do filósofo Aristóteles.
Aristóteles preocupava-se em
classificar os fenômenos naturais, os animais, minerais e plantas em categorias
e subcategorias mutuamente exclusivas.
Os
animais são classificados em mamíferos, aves, répteis, peixes, etc... Um animal
não pode pertencer simultaneamente a duas categorias. A baleia, por exemplo,
embora viva na água, é uma mamífero. Ela não pode ser, ao mesmo tempo, peixe e
mamífero.
A
divisão da informação por classificação é estática e não permite muitos
entrecruzamentos.
Na
escola, por exemplo, os alunos aprendem matemática, física e química como
matérias isoladas. É a compartimentação do saber.
É
interessante notar que a forma como organizamos as informações vai moldar a
maneira como pensamos e vemos o mundo.
Certa
vez, quando eu era professor de Redação Jornalística, descontei pontos de uma
aluna que havia cometido vários erros gramaticais. Ela contestou a nota com um
argumento típico do universo classificador:
- Você
é professor de redação jornalística, não de português, portanto não pode
descontar pontos de erros gramaticais.
Claro
que nem todos os adeptos do universo classificador são tão radicais, mas não há
dúvidas de que foi o universo classificador que permitiu a compartimentação do
saber contra a qual a cibernética tanto lutaria (atualmente o grande crítico
dessa compartimentação é o filósofo Edgar Morin).
Em
todo caso, um exemplo muito bom de universo classificador é a biblioteca.
Os
livros são distribuídos nas estantes e nos catálogos através de categorias e
subcategorias mutuamente exclusivas.
Por
exemplo: uma estante para ciências exatas, outra para ciências humanas. Na sala
de ciências humanas, há o conjunto de estantes de história. Entre elas, há estantes
para história do Brasil, história geral e história antiga.
Muitas
vezes essas divisões se tornam complicadas.
Diante
de um livro como “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, o bibliotecário se vê num
aperto.
O
livro é uma ficção literária de alto categoria, mas é também um romance
policial ao estilo de autores como Conan Doyle. Por outro lado, é também um
verdadeiro tratado histórico sobre a Idade Média. Uma leitura mais atenta
revelaria que boa parte de suas páginas são ocupadas com a semiótica, ciência
que estuda os signos e até cibernética.
Em
que categoria incluir “O Nome da Rosa”? Em alta literatura? Em ficção policial?
Em teorias da comunicação? Em história da Idade Média?
O
mesmo tipo de problema pode ser encontrado nos sites de busca, como o cadê. A
palavra ensino nos levará às categorias ensino superior, ensino médio e ensino
fundamental. Dentro de ensino superior, há cursos de graduação, cursos de
pós-graduação e assim por diante.
Não
há dúvida de que a informação classificadora foi o grande motor do
desenvolvimento de nossa sociedade, especialmente do ponto de vista científico
e tecnológico. Entretanto, a ênfase exagerada dada a esse tipo de informação
revela, hoje, um impasse em decorrência da grande quantidade de informação com
a qual lidamos diariamente.
Por
outro lado, o universo classificador, ao pressupor que há algo acima e algo
abaixo, permitiu que surgisse a hierarquia e as divisões de classe.
A
sociedade brasileira é organizada de forma classificadora: o presidente está
acima do governador, que está acima do governador, que está acima do prefeito.
Uma pessoa não pode ser, ao mesmo tempo, presidente e prefeito.
A
ênfase no conceito de liderança decorre de um processo de classificação da
informação. Entretanto, para algumas culturas, como a esquimó, o conceito de
liderança é irrelevante.
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