O Tico-tico foi a primeira
revista em quadrinhos do Brasil. Conta a lenda, impressa na capa do primeiro
número, que um grupo de pirralhos foi até a revista O Malho exigir que fosse
criada uma publicação específica para eles.
Na verdade, o dono de O
Malho, estava de olho nesse novo e crescente mercado representado pelas
crianças. Um mercado, aliás, que durante anos não teria qualquer concorrência.
O primeiro número saiu em 11
de outubro de 1905 e seguia o modelo da revista francesa La Semaine de Suzette. Tinha
quatro páginas coloridas. As outras usavam uma combinação de branco com
vermelho, verde ou azul.
Custava 200 reis, preço que manteve até 1920.
Embora a inspiração fosse francesa, o personagem principal, Chiquinho, era
um decalque de Buster Brown, do norte-americano Richard Outcault, publicado no
jornal The New York Herald. O personagem era um garoto travesso que fazia as
maiores traquinagens e acabava muitas vezes apanhando. Seu inseparável companheiro
era o cão Tige. No Brasil, o desenhista Luís Gomes Loureiro adaptou o
personagem, renomeando-o de Chiquinho. O cão virou Jagunço, e logo a série
ganhou um coadjuvante, o negrinho Benjamin, retratado com a visão que se tinha
do negro na época: descalço, lábios grossos, roupas simples e subserviente.
Embora fosse um decalque, a adaptação ficou tão boa que durante muito tempo
acreditou-se que Chiquinho era um típico personagem brasileiro.
A descoberta da origem do personagem se deu na década de 1950, quando um
grupo de desenhistas novatos comparou Chiquinho com Buster Brown. Entretanto,
Chiquinho tem sido reabilitado por ter conseguido se adaptar à realidade
brasileira. Além disso, os decalques pareciam ser moda na época. Na Holanda, o
garoto virou Sjors, do clube dos rebeldes, uma série reverenciada até hoje e de
grande influência nos quadrinhos locais.
Alguns dos mais importantes artistas gráficos do Brasil colaboraram com O
Tico-Tico. Entre eles, J. Carlos, um cartunista que conseguiu criar um traço
único, tão diferente e simples que seus trabalhos constam no Museu das
Caricaturas, na Basiléia. Segundo estudiosos, um desenho seu de um papagaio
serviu de inspiração para que Walt Disney criasse o Zé Carioca. Na revista O
Tico-tico ele ficou famoso pela personagem Lamparina, uma negrinha do morro que
vivia pregando peças nos adultos.
Outro que se destacou foi Luiz Sá. Com seus personagens redondos, ele foi o
pioneiro da arte da animação no Brasil, tendo feito um desenho em sequência com
mais de cem metros, que nunca foi exibido por falta de patrocínio. Para a publicação, ele criou Reco-reco, Bolão
e Azeitona, um trio de garotos que apareceram de 1931 até o fechamento da
revista na década de 1960.
Finalmente, Max Yanton foi outra estrela da revista. Ele era especializado
em tipos pitorescos, vagabundos e sem família. Sua criação mais famosa foi
Kaximbown, de 1908, um aventureiro que nunca pagou seu empregado Pipoca e vivia
se dando mal a cada episódio. O personagem ficou tão famoso que Rui Barbosa só
chamava o desenhista de Kaxibown.
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