No início da década de 1970 a juventude achava que
podia mudar o mundo. Nos EUA, os jovens lutavam contra a guerra do Vietnã,
contra o preconceito racional e a favor da natureza. Era uma geração
politizada, que desprezava os velhotes que mandavam no país. Essa geração
adorava os quadrinhos. A perseguição que os gibis haviam sofrido por parte dos
setores mais conservadores da sociedade fizeram com que os jovens rebeldes
simpatizassem com eles. Além disso, as histórias em quadrinhos da Marvel, com
heróis realistas, ídolos com pés de barro, mostravam que os gibis não eram
simplesmente uma questão da luta do bem contra o mal.
Foi
nesse contexto que surgiu um dos trabalhos mais revolucionários do gênero
super-heróis: a série do Lanterna e do Arqueiro Verde.
A
idéia começou com um pedido do editor Julius Shwartz ao roteirista Dennis O´Neil
para que ele reformulasse a revista do lanterna Verde. O gibi não estava
vendendo bem, mas a DC Comics não queria cancelar o título. O´Neil era um
desses jovens rebeldes do final dos anos 1960. Além escrever quadrinhos, ele
trabalhava como jornalista e já havia publicado um livro sobre as eleições
presidenciais. Ele admirava profundamente o novo jornalismo e se perguntava se
seria possível fazer algo semelhante nos quadrinhos. Além disso, ele
participava de passeatas contra a guerra, assinava abaixo assinados, era fã de
Martin Luther King. O convite para reformular o Laterna pareceu-lhe uma
oportunidade de colocar essa atuação política no gênero superheroiesco.
Seu
princípio básico foi: o que aconteceria se um super-herói fosse colocado num
contexto real, para lidar com problemas reais? O Laterna era um policial, um
militar, assim como aqueles que batiam em estudantes ou matavam pessoas no
Vietnã. Tudo porque nunca haviam questionado as ordens que recebiam. E se o
Lanterna começasse a questionar suas ações?
Para
ter um contraponto, O´Neil resgatou um personagem menor, que nunca tivera
popularidade suficiente para estrelar uma revista: o Arqueiro Verde. Ninguém
parecia estar muito preocupado com Arqueiro, do modo que o roteirista teve
total liberdade para transformá-lo de Playboy em um anarquista vigoroso, de
pavio curto. Era ele que colocaria o lanterna contra a parede, apresentando-o
ao mundo real das pessoas que passavam fome, sofriam abusos e eram exploradas.
Para
desenhar a história foi chamado Neal Adams. Adams e O´Neil já tinham trabalhado
juntos no Batman e feito um ótimo trabalho, tornando-o mais adulto e sombrio.
Mas seria nessa série do Lanterna e do Arqueiro que eles fariam sua obra-prima.
Os dois artistas não tinham nada em comum. Ao viajarem juntos para uma excursão
promocional, descobriam que não conseguiam concordar nem mesmo sobre que canal
assistir na televisão. Mas quando produziam quadrinhos, eram perfeitos.
Logo na
primeira história, ¨O mal sucumbirá ante à minha presença¨, O Lanterna Verde é
confrontado com o fato de que até então ele estivera defendendo capitalistas
exploradores contra trabalhadores. Essa primeira história deu o tom da série,
que iria abordar alguns dos maiores problemas do mundo, da fome à destruição da
natureza.
O gibi foi
um sucesso de crítica, sendo mencionada em dezenas de jornais e revistas. Os
autores eram convidados para falar em programas de TV e em universidades. Além
disso, todo mês chegavam centenas de cartas elogiosas. Apesar disso, a revista
foi cancelada no número 13. Os editores alegaram vendas baixas, mas, como essa
série é republicada até hoje, sempre com sucesso, o mais provável é que a
editora estivesse assustada com o tom crítico que o gibi estava tomando e
temesse uma reação conservadora contra os seus quadrinhos.
De certa
forma, o fim da revista foi positiva, pois sua continuação levaria O´Neil a
vasculhar os jornais, em busca de novas causas: ¨No fim, iríamos degenerar a
série até a autoparódia, um gibi de ´causa do mês´¨.
Sem comentários:
Enviar um comentário