A paisagem no início da
década de 70 era desoladora. As bancas de revistas que chegaram a ter dezenas
revistas de terror nacional para oferecer, a seus leitores estavam sendo
dominadas por revistas estrangeiras, especialmente da Marvel. O Brasil era uma
ditadura que, em nome do patriotismo, censurava as edições nacionais e abria
caminho para um domínio estrangeiro na área de quadrinhos que vai muito bem,
obrigado.
“Brasil. Ame-o, ou
deixe-o”, o lema da ditadura, parece ter sido feito especialmente para os
quadrinhistas nacionais. Para quem queria ficar ou não tinha o dinheiro da
passagem, a solução foi apelar para uma solução americana: o movimento underground,
apelidado no Brasil de undigrudi. Esse movimento tinha sido inaugurado nos
quadrinhos por Robert Crumb (Gato Fritz) que produzia e publicava suas revistas,
fugindo, assim, do esquema das grandes editoras. No Brasil surgiram revistas como
Grilo e Balão, que publicavam material altamente influenciado por Robert Crumb
e tinham pequena tiragem.
O retorno financeiro era
pequeno e essas revistas serviam muito mais para mostrar que o Brasil ainda tinha
quadrinhos e talentos promissores, como Laerte, Luiz Gê, Angeli e Paulo Caruzo.
Esse último desenhou uma história que representava muito bem a luta desses
heróis. Começava com um homem (o próprio Paulo) desenhando um “X” na calçada e
subindo num prédio. A medida em que p elevador avançava na direção do topo,
começava a acumular gente ao redor do “X’, Quando o rapaz chegava ao telhado
do prédio, já havia uma multidão lá em-baixo, esperando. De repente ele se
joga, e grita “Viva o quadrínho nacional!” e cai, fora do “X”. Desapontados,
os populares vão embora, comentando entre si: “Esse pessoal’ do quadrinho
nacional não dá mesmo uma dentro...”
Também na onda do underground
(ou undigrudi, como queiram) Oscar Hern publica, em janeiro de 1970, o fanzine
Historieta, inaugurando a onda zine no pais. Fanzines são os filhos mais
pobres do movimento underground. Produzidos geralmente em xerox ou mimeógrafo,
essas revistas já revelaram grandes talentos, como Mozart Couto, Jonas
Schiaffino e Deodato Filho, muitos dos quais hoje trabalham para os EUA ou
para a Europa. Praticamente não há quadrinhistas nacionais que nunca tenham
publicado alguma coisa em fanzines. Existem fanzines dos mais variados tipos e
qualidades, mas a maior parte são impregnados de um espírito de liberdade e
experimentação que influencia até hoje a linguagem nacional de quadrinhos.
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