Entre os
artistas franceses da nova geração, surgidos na década de 1970, um nome se
destaca não só pela qualidade dos desenhos, mas, principalmente, pelo ótimo
roteiro. Trata-se de Français Bourgeon, criador da série Companheiros do
Crepúsculo.
Bourgeon
nasceu em Paris, França, em 1945 e começou sua carreira artística pintando
vitrais em catedrais e restaurantes da Inglaterra. Esse começo ia ter grande
influência em seu trabalho posterior, principalmente no detalhismo de seu
traço.
Em 1973 ele
começou a desenhar a série infantil Brunelle et Colin (com texto de Robert
Genin) para a revista Lissete, mas seu primeiro trabalho mais autoral só viria
em 1978, quando ele desenhou Malthe Guillaume para o texto de P. Dhombe.
Em 1979
surgiu a primeira série com roteiro seu, Passageiro do Vento, um clássico dos
quadrinhos europeus. A personagem principal da série é Isa, uma moça boa de
tiro que se veste de homem para trabalhar num navio.
Bourgeon
conta que começou a fazer passageiros do vento para aproveitar seus
conhecimentos sobre a marinha do século XVIII: ¨Pensei em fazer uma aventura de
corte bastante clássico, no espírito das novelas de capa e espada... depois a
aventura ficou em segundo plano e me dediquei a explicar a relação entre os
personagens¨.
A série tem
cinco álbuns. Os melhores são os três últimos, quando Isa, o marido e uma amiga
vão para a África a bordo de um navio negreiro. Bourgeon mostra em detalhes o
funcionamento do tráfico de escravos, o modo de vida dos negros, a relação
entre as tribos (muitas da quais viviam de vender escravos aos brancos).
Embora a HQ
denuncie as atrocidades cometidas contra os negros, os personagens não se
dividem em heróis e vilões. Ao contrário, são tridimensionais, na tradição da
boa literatura.
Em 1983,
Bourgeon lança seu trabalho mais importante: a série Companheiros do
Crepúsculo. Dessa vez a história se passa na Idade Média, que é mostrada com um
realismo poucas vezes visto nos quadrinhos, inclusive em termos de violência. O
autor mostra a fome, a peste, a luta entre plebeus e a nobreza... em um das seqüências,
um grupo de soldados passa por uma vila, vindos da guerra e destroem tudo,
violentam as moças, matam os homens e usam a barriga de uma gestante como alvo
para sua flechas. Tudo baseado em fatos reais, documentados.
A história
também flerta com o fantástico ao mostrar duendes e tradições da magia celta.
Os
personagens principais são um cavaleiro de rosto deformado, que anda à procura
da morte para acertar umas contas; um pajem que foi encontrado pendurado em uma
forca e Mariotte, uma rapariga ruiva.
A moça acaba
se tornando a personagem principal da série: ¨As mulheres têm em minhas
histórias o mesmo papel que têm na vida de muitos indivíduos. Sem mulher eu não
existiria, sem ela a vida não teria muito interesse¨.
Outro
aspecto interessante em Companheiros do Crespúsculo é o fato do leitor nunca
saber ao certo o que é realidade e o que é sonho. Essa impressão é
particularmente forte nos dois primeiros números. No terceiro álbum, Bourgeon
tornou mais realista a história, dedicando-se a analisar as relações sociais na
época da Idade Média.
Em tempo:
Companheiros do Crepúsculo foi publicado no Brasil em volume único pela editora
Nemo.
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