sábado, abril 01, 2017

O uivo da górgona - parte 26


26
O carro manobrou para o estacionamento de um conjunto residencial. Pareciam estar entrando em um cenário de guerra. Havia pedaços de móveis, televisões e até um fogão caídos por ali.
- Acho que eles gostam de ver a destruição. – comentou Jonas.
Edgar fez que sim com a cabeça. A menina indicara que o apartamento em que morava ficava no quarto andar. O elevador provavelmente não devia estar funcionando e, mesmo se estivesse, seria arriscado pegá-lo.
Um pensamento atravessou rápido sua mente: e se o prédio ainda estivesse cheio daquelas coisas?
- Sabe, eu não suporto som alto. – disse Alan quando entraram no prédio. Eu moro com mais dois amigos da faculdade e durmo com tampões no ouvido. Também fiz um isolamento acústico improvisado, com caixas de ovos, no meu quarto.
Estavam entrando no prédio. Edgar ia à frente, a garotinha segurando em sua mão. Gostaria de ter algo na outra mão, talvez um porrete, para não se sentir tão desprotegido. Depois dele vinha Jonas e lá atrás o garoto, falando e falando e falando.
- Quando eu acordei de manhã, a casa tinha virado um inferno. Eu pensei: cara, o que esses caras tomaram ontem à noite? Então saí e vi que não tinha ninguém na rua...
- Quieto! – ordenou Jonas, o dedo na boca, em sinal de silêncio.
Era uma situação delicada. Não havia nenhum zumbi na entrada, mas teriam que subir as escadas e poderiam ficar encurralados ali.
- Silêncio agora! – ordenou Jonas. Vamos subir. Ao menor sinal de perigo, voltamos correndo. Vamos torcer para que caso eles apareçam, venham só de cima. Se vierem de cima e de baixo, estaremos em uma armadilha. Tentem não fazer barulho.
Edgar e Alan fizeram que sim com a cabeça. Então começaram a subir. O silêncio era total, quebrado apenas pelos estalar dos passos no piso de concreto. Edgar sentiu que a mão da menina estava molhada de suor. Não era calor. Era medo.
Não havia nada no andar de cima ou no seguinte. Mesmo assim, Edgar estava apreensivo. Finalmente chegaram ao andar certo. A menina indicou com um gesto seu apartamento. Como fizera da outra vez, Edgar aproximou o ouvido da porta, atento. Nada, silêncio total e absoluto. Então, algo o assustou. Olhou para Jonas e este respondeu com um olhar indicativo. Foi quando compreendeu. O barulho vinha de baixo, dos andares inferiores. Um ou mais zumbis estava subindo.
Não havia alternativa. Era arriscado abrir a porta e entrar no apartamento sem terem certeza de que estava tudo livre, mas era a única coisa que podiam fazer no momento.
A porta estava arrombada, o compensado quebrado à altura da fechadura, mas fechada. Bastou um leve toque para que se abrisse.

- Caramba! – exclamou Alan. 

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