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O cenário era de guerra. A sala se
tornara uma miríade de desastre e caos. Havia uma televisão quebrada no centro
dela. Era uma TV antiga, de tubo, e seus pedaços haviam se espalhado por toda a
extensão do tapete central. Um telefone pendia, inútil, da parede, como uma
cobra morta. O sangue no chão se misturava a restos de revistas de fofocas, as
fotos de artistas recortadas em mil, o sangue se misturando aos sorrisos. Um
elefante de porcelana jazia, destroçado, as patas que sobraram levantadas na
direção do teto como numa súplica desastrada. As paredes nuas, com pedaços de
reboco faltando, pareciam chorar os quadros caídos. Era praticamente impossível
andar por ali sem pisar em algo.
Edgar e Sofia entraram primeiro.
Foram andando devagar, na direção que a menina indicava.
Alan se abaixou e pegou algo no
chão. Era um porta-retratos e mostrava a menina ao lado de um casal, em uma
piscina. O homem e a mulher, muito jovens, sorriam para a câmera, mas a menina
parecia triste, talvez porque o vidro se quebrara exatamente sobre seu rosto.
O lugar para onde a menina os
levara era o seu próprio quarto. A destruição ali era menor, mas era igualmente
assustadora: ursos de pelúcia rasgados, bonecas decapitadas, tinta escolar
espalhada pelas paredes, livros infantis rasgados. Na parede o desenho de um
palhaço rasgado.
A menina pegou uma mochila rosa,
provavelmente a que usava na escola, e começou a enchê-la de roupas. Pegou
também um cachorrinho de pelúcia, o único que havia escapado à fúria
destruidora. Quando o encontrou, debaixo do guarda roupa, o rosto da menina se
iluminou em um sorriso. Ela o agarrou junto ao peito e fechou os olhos por
alguns segundos, como se o seu contato macio a fizesse esquecer todo o horror
pelo qual passara.
- Vejam, encontrei um celular
ainda com carga. – anunciou Alan, entrando no quarto. Podemos...
Mas não terminou. Jonas, que
estava junto à janela, fez sinal de silêncio. Ele olhava para baixo, os olhos
espantados, a face branca como um fantasma.
- Deus nos ajude! – murmurou.
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