segunda-feira, abril 03, 2017

O uivo da górgona - parte 28

28
Os outros assomaram à janela.
- Caramba! – gritou Alan. Depois tampou a boca.
- Meu Deus! – murmurou Edgar.
Lá embaixo uma multidão se aproximava. Não era um grupo pequeno, de uma ou duas dezenas de pessoas, como os que haviam visto antes. Eram centenas, talvez milhares de pessoas, o andar arrastado, os braços pendentes. Vinham todas na direção do prédio e iam entrando pela portaria. Lá de cima, era como um formigueiro, uma massa monstruosa e irracional, absolutamente perigosa.
- Vieram atrás de nós. – concluiu Edgar.

- A porta. – alertou Jonas.
De fato, a porta seria um problema. O trinco tinha sido arrombado, provavelmente na confusão da noite anterior. Além disso, o compensado, usado em conjuntos populares, oferecia pouca resistência. Se o grupo de zumbis resolvesse arrombá-la, ela cairia.
- Vamos bloquear. – decidiu Edgar.
Gastaram os minutos seguintes procurando algo que pudesse ser amontoado para bloquear a porta. O sofá foi colocado junto a ela e, sobre ele, tudo mais que encontravam e que podia ser movimentado: o botijão de gás, o fogão, um criado-mudo. Estavam em uma sinuca de bico: Sabiam que quanto mais coisas colocassem ali, mais seguros estavam, mas sabiam que o barulho chamaria a atenção dos zumbis. Assim, quando acharam que já tinham o suficiente, pararam e ficaram lá, na sala, esperando.
O zunir veio se aproximando pelas escadas, como um enxame de abelhas.

Sofia segurou a mão de Edgar e apertou. Ele se abaixou e abraçou-a. A menina enterrou a cabeça em seu peito, como se não quisesse ver o que ia acontecer. Ele a confortou acariciando seus cabelos. Lá fora o som aumentava. Um grupo maior parecia ter subido as escadas, mas alguns haviam escoado pelo andar e, pelo som que faziam, eram muitos. Suas unhas arranhando as paredes misturavam-se aos gemidos irracionais.
Houve um barulho forte, de madeira quebrando.
- Estão arrombando um dos apartamentos. – murmurou Jonas.
Devia ser o apartamento mais próximo da escada, pois as vozes agora se dividiam e uma parte delas parecia abafada. Quando criança, Edgar tivera um pesadelo. Estava em um local escuro, perdido, sozinho, no silêncio da solidão. Então, alguma coisa começou a se arrastar no negrume da noite, algo terrível e nojento, aproximando-se dele. E então, outra coisa e outra e outra, como se o cercassem.

Era aquele mesmo pavor que sentia naquele momento. 

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