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Edgar inicialmente achou que fosse
mais um dos zumbis e acelerou.
- Não! - gritou Jonas, ao seu lado, e o professor apertou
o freio com toda a força.
O pneu saiu arrastando no asfalto
e ganindo como um cachorro ferido. O carro parou a poucos metros da senhora.
Não, não era um zumbi, mas era a pessoa mais estranha que o professor já vira.
Usava uma saia roxa pouco abaixo do joelho e uma camisa azul com vários colares
ao redor do pescoço. Na cabeça trazia um chapéu trançado com enfeites de flores
e nas mãos uma sombrinha colorida e pequena, como de criança. Parecia uma
figura de sonho.
- Pensei que fossem me atropelar!
– gritou ela.
Ficaram todos dentro do carro
olhando para aquela figura estranha, até que ela reclamasse:
- Não vai abrir a porta?
Alan apressou-se a abrir a porta
traseira e a mulher entrou, empurrando-o, espaço:
- Dá licença! Meu nome é Zulmira.
Com L. Z, U, L, M,I, R, A. Todo mundo escreve errado, então pode me chamar de
Zu também. Achei que fossem me matar. Já
não bastasse ter de fugir dos sem cérebro, agora tenho que me preocupar com
vocês?
- Sem cérebro? – perguntou Alan.
- Você é tapado? Não viu o que
aconteceu? A música fritou o cérebro deles.
Edgar começou a rir. Foi como
abrir uma comporta. Toda a tensão acumulada durante aquela última hora
extravasou num único momento. Quando percebeu, todos estavam rindo com ele.
A mulher olhou à volta, desconfiada:
- Do que estão rindo?
Edgar teve que tirar as mãos do
volante para enxugar as lágrimas:
- Nada. Você está certa. A música
fritou o cérebro deles...
Edgar achou que a mulher nunca
fosse parar de falar e temeu que isso pudesse chamar a atenção dos zumbis:
- Eu sempre digo que esse tipo de
música que a juventude de ouve ia fritar o cérebro deles. E o pior é que ouvem
sempre alto. Mesmo quando colocam fone de ouvido, no ônibus, todo mundo ouve. A
impressão que dá é que querem ficar surdos, ou já estão surdos. Por isso que
mandei fazer na minha casa um quartinho com isolamento acústico. É um quartinho
pequeno, mas pelo menos lá tenho paz. E ainda durmo com tampões. Sempre ando
com tampões de ouvido na bolsa. Ei, entre aqui!
O professor apertou o freio e
olhou para trás:
- Como assim?
- Aqui fica a minha casa. Vou
ficar com vocês, não vou? Se for, vou precisar pegar algumas coisas.
Edgar olhou para onde a mulher
apontava. Era uma rua sem saída. Uma armadilha perfeita, caso os zumbis
aparecessem.
Jonas trocou um olhar com o
professor. Também tinha percebido o perigo da situação.
- Senhora, não seria mais seguro
esperá-la aqui?
- E se aparecer alguma daquelas
coisas? Vou ter que andar tudo isso para fugir? Deixem de ser medrosos. Vai ser
rapidinho...
Houve um longo minuto de silêncio.
- Então, vão ou não vão?
Edgar balançou a cabeça, como se
não acreditasse no que estava fazendo. E manobrou para entrar na rua sem saída.
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