No
final dos anos 1970, uma série de quadrinhos mudou o mercado de super-heróis e,
posteriormente, iria mudar a forma como Hollywood via os gibis. Trata-se de
X-men.
Esse
grupo de heróis foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 como uma espécie
de Quarteto Fantástico adolescente, mas nunca fez muito sucesso. O gibi sempre
foi deixado de lado e vivia constantemente de republicações. No início dos anos
1970, o revolucionário desenhista Neal Adams foi contratato pela Marvel para
revitalizar os personagens numa série escrita por Roy Thomas. O novo gibi era
bom e chegou a fazer algum sucesso, mas os executivos da Marvel não tiveram
paciência de esperar e acabaram remanejando os autores para outros personagens.
Assim,
os X-men ficaram à deriva, vivendo de republicações ou participações especiais
em outras séries até 1975. Nessa época, a empresa dona da Marvel tinha também
uma organização que licensiava quadrinhos para diversos países e surgiu a idéia
de criar uma série que reunisse heróis dos países em que gibis Marvel eram mais
populares. Roy Thomas sugeriu remodelar os X-men, com membros de várias etnias.
Para isso, ele chamou o roteirista Len Wein e o desenhista Dave Cockrum, famoso
pela facilidade de criar uniformes de personagens.
A
idéia original não foi seguida à risca e a nova equipe veio com um herói russo
(Colossus), uma africana (Tempestade), um índio apache (Pássaro Trovejante), um alemão (Noturno), um japonês (Solaris), um,
escocês (Banshee). Um personagem canadense, que havia sido criado como
coadjuvante nas histórias do Hulk, chamado Wolverine, foi reaproveitado na nova
série, assim como dois personagens da série clássica: Cíclope e a Garota
Marvel.
No
livro A era de bronze dos super-heróis, Roberto Guedes conta que a criação do
grupo partiu de um caderno de Cockrun, no qual ele desenhara várias idéias para
uniformes de personagens. Ele e o roteirista misturaram uniformes, poderes, e
chegaram a um grupo coeso.
A
nova equipe estreou numa história em que eles eram chamados pelo professor
Xavier para salvar o mundo de Krakoa, a ilha viva. Essa história fez tanto
sucesso que a Marvel resolveu ressuscitar a revista. Mas Len Wein estava
ocupado demais com outras séries, e passou a bola para seu assistente, Chris
Claremont. Claremont tinha uma facilidade muito grande de trabalhar histórias
com grupos grandes e acabou se apaixonando pelos X-men. Tanto que escreveu a
revista dos mutantes durante 17 anos, sendo chamado de ¨O senhor X¨.
Com
a nova equipe criativa, a revista foi ganhando popularidade, mas estava longe
de figurar na relação das mais vendidas. Além disso, havia um problema: embora
a revista tivesse apenas 17 páginas (o menor número de páginas que um gibi de
super-heróis já teve), Cockrun não conseguia dar conta do serviço. Assim, foi
chamado um outro artista, fã da série original, que já havia trabalhado com
Claremont na série Punhos de Ferro: John Byrne.
Curiosamente,
logo no início o traço de Byrne não agradou, tanto que os editores ainda
colocaram Cockrun para fazer as capas. Mas logo ele se tornaria o preferido
entre os fãs. Byrne, além de ótimo desenhista, era muito rápido e ajudava nos
roteiros, colocando mais ação nas tramas e evitando a tendência de Claremont de
transformar a série numa novela de diálogos intermináveis. Para fazer a
arte-final foi chamado Terry Austin, dono de um traço muito detalhista, que
ressaltava as melhores qualidades do desenho de Byrne. Estava formada a tríade
que transformaria os X-men não só na
revista mais vendida do mercado norte-americano, mas também numa das franquias mais bem sucedidas da
indústria do entretenimento, com vários gibis e filmes.
Uma
das primeiras mudanças provocadas pela entrada de Byrne na equipe foi a
valorização do personagem canadense Wolverine. Como o desenhista também é
canadense, ele acabou dando mais ênfase a ele. Na época, o baixinho era tão
inexpressivo que a maioria dos leitores nem reparava nele. Com o tempo ele se
tornaria o personagem mais popular da equipe.
Byrne
chegou no final de uma saga em que a personagem Fênix praticamente salvava o
universo sozinha. Essa aventura mostrava a personagem com tantos poderes que
parecia impossível continuar fazendo histórias com ela. A solução encontrada
durante algum tempo foi simplesmente afastá-la da equipe.
Logo
na aventura seguinte, Byrne fez questão de colocar seu conterrâneo em
evidência. Nessa história, o governo do Canadá enviava um super-herói local
para levar Wolverine de volta para casa. A história chamou a atenção dos
leitores para o passado nebuloso do baixinho. Esse seria um dos fatores de sua
popularidade: a cada edição os leitores descobriam mais um detalhe sobre o
passado desse personagem.
Os
X-men viveram uma série de aventuras ao redor do mundo, passando pela Terra
Selvagem, Japão e Canadá, para então voltar aos EUA. Aos poucos, os leitores
foram percebendo que havia um novo padrão de qualidade sendo estabelecido ali,
mas a série só se tornaria um sucesso mesmo com a saga de Protheus.
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