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- Já pensaram no que está
acontecendo? – perguntou Jonas.
Zu segurava a galinha em seu colo
e a acariciava, como se fosse um gato. O animal parecia gostar daquilo.
- Eu já disse. A música fritou o
cérebro deles.
- Acho que a Zulmira pode ter mais
razão do que imagina. – concordou Edgar.
- Pode me chamar de Zu.
- Está bem, Zu. Existe uma área do
conhecimento chamada psicologia das massas, que estuda os comportamentos
coletivos. Um desses comportamentos, provavelmente o mais primário deles, é o
da multidão. É um comportamento instintivo, governado pela parte mais antiga de
nosso cérebro, a amídala, ou cérebro reptiliano.
Jonas franziu o cenho:
- Temos mais de um cérebro?
- Temos basicamente três. São
registros da evolução de nossa espécie. O primeiro deles é o reptiliano, depois
o mamífero, o complexo límbico, e, finalmente, o neocórtex. O mamífero governa
nossas emoções e nosso sentimento de pertencer a um grupo.
- É o instinto de boiada. –
atalhou Alan.
- Isso mesmo. Quando imitamos
outras pessoas, ou queremos muito fazer parte de um grupo, é essa parte do
cérebro que está em ação. Por outro lado, o neocórtex governa nossa capacidade
linguística e crítica. É a parte mais evoluída.
- E o que faz esse cérebro
reptiliano?
- Um cientista definiu o cérebro
reptiliano como o responsável por decidir algo como “Eu como isso, ou isso me
come?”. – explicou Edgar.
- Isso quer dizer que era um
cérebro usado para caçar?
- Também. Mas também foi uma parte
importante de nosso cérebro quando se tratava de fugir de perigos. Ainda hoje o
usamos quando tomamos atitudes impulsivas e impensadas.
- É um cérebro ruim. – decidiu Zu.
- Não necessariamente. Se, por
exemplo, o teto começasse a cair e precisássemos sair daqui urgentemente, era
essa parte de nosso cérebro que governaria nossa ação. Se fôssemos parar para
pensar no que estávamos fazendo... instintos são importante. Jonas me salvou
hoje graças à sua ação rápida.
- Eu não queria ter matado aquela
mulher. - suspirou Jonas.
- Mas se não tivesse feito isso,
nós é que estaríamos mortos. Se ele tivesse parado para pensar no que estava
fazendo, nunca teria agido, entendem?
Alan coçou o queixo:
- Mas o que isso tem a ver com os
zumbis?
Edgar levantou as mãos por um
minuto, as palmas viradas para cima.
- Não é óbvio? A Zu tem razão, em
partes. A música alta fritou o cérebro deles, mas não todo o cérebro... Existem
sons nocivos à saúde, como os infrassons, mas sabe-se que mesmo sons normais
são capazes de diminuir a ação do neocórtex. As substâncias liberadas pelo
corpo em pancadões ou aparelhagens fazem com que o cérebro reptiliano tome
conta. Isso explica, por exemplo, por que razão há tantas brigas nesses tipos
de shows musicais.
- Eu não usaria a expressão “show
musical” para esses casos. – atalhou Zulmira.
- Quer dizer que o som destruiu o
neocórtex deles e fez com que o cérebro reptiliano tomasse conta? – indagou
Jonas.
- Sim.
Alan balançou a cabeça:
- Isso explica porque ficam tão
violentos. E explicam porque sempre estão com fome...
- E preferem comida fresca, como
feras. Sangue, eles gostam de sangue. Posso confirmar isso. – disse Zu.
- Mas há uma falha. Eles preferem
andar em grupos...
Edgar assentiu:
- Isso pode significar que uma
parte do cérebro mamífero sobreviveu. O instinto de boiada ainda existe neles.
Em todo caso, vamos precisar de armas a próxima vez que sairmos.
O grupo ficou em silêncio,
pensativo, enquanto Sofia se agitava, no colo de Edgar.
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