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Dani andou por entre as mesas e
cadeiras da área de alimentação. Nenhum som, nenhum movimento. Não havia
ninguém ali. Ela imaginou que de noite o shopping teria seguranças, mas ela não
encontrou nenhum – e os funcionários que falaram com ela haviam simplesmente
desaparecido. Nunca se sentiu tão sozinha e desolada. Incapaz de saber o que
fazer, ela se sentou em um banco e ficou lá, parada, extática. Finalmente o
cansaço superou o medo e ela se deitou de lado no banco duro. Ficou lá por
alguns minutos, os olhos fixos no nada, tentando entender, tentando saber o que
fazer.
Naquela noite ela teve pesadelos.
Sonhos com pessoas estranhas se dilacerando, com gritos, uivos e multidões.
Quando acordou, custou a entender
onde estava. Depois de um longo tempo percebeu que ainda se encontrava no
shopping e que tudo era real. A luz do dia entrava pela claraboia e a cegava.
Ela se levantou e foi até o
banheiro. Lavou o rosto e se olhou no espelho. O que era aquilo em seus olhos? Medo?
Felizmente havia a fome e isso era
uma prova de que ela ainda estava viva. Ela andou pela praça de alimentação e
percebeu que todos os quiosques estavam fechados com portas de enrolar. Sentia
fome e tinha comida muito perto dela, mas era como se estivesse inalcançável.
Num corredor próximo encontrou um
quiosque de doces e balas. Não era nada muito nutritivo, mas pelo menos
evitaria que ela desmaiasse de fome.
Ela ficou lá parada muito tempo.
Sentia que era fácil arrombar o quiosque, mas... e se aparecesse alguém? Como
explicaria isso?
Por fim, decidiu-se. Deu um murro
no acrílico, que cedeu um pouco, mas não quebrou.
Dani olhou à volta. O barulho
tinha repercutido no corredor e de repente parecia que alguém surgiria, mas o
silêncio continuava imperando. Talvez estimulada por isso, ela andou até uma
barra de madeira que devia segurar alguma coisa, mas agora parecia apenas um
espantalho no meio do corredor. Voltou com ela e bateu no acrílico, que cedeu,
deixando à mostra uma porção de minhocas de gelatina.
Dani pegou um punhado delas e
abocanhou-o. Fazia bem para o estômago, mas precisaria de algo mais
substancial. A garota pegou um pacote de papel e encheu-o de minhocas. Depois,
andou pelos corredores, procurando alguém.
Mas não havia ninguém.
Não havia pessoas que trabalhavam
em momentos que o shopping estava fechado? Seguranças, pessoal da limpeza?
Não havia ninguém. Nem no
terceiro, no segundo ou no primeiro andar. No primeiro andar, próximo à entrada
do estacionamento ela imaginou ouvir barulhos e resolveu descer.
A
luz das claraboias não chegava à área de estacionamento e Dani teve grande
dificuldade para acostumar seus olhos à escuridão. Ficou lá longo tempo, em
silêncio e parada, até começar a perceber algo.
Então
surgiu algo, lá na frente. Ela se escondeu atrás de um carro, o coração
disparado, como se adivinhasse que estava diante de um perigo.
O
movimento surgiu e desapareceu diante dela. Pareciam pessoas. E então, como um
som que fosse sendo ligado aos poucos, uma algazarra foi tomando forma,
primeiro muito baixa, depois muito nítida.
Era
um grupo de pessoas, andando muito próximas umas das outras. Andavam como
alucinados, arrastando os pés e soltavam lamentos agudos e desordenados. Dani
viu vários deles com uniformes de segurança. Outros pareciam ser da limpeza. O
uivo aumentava e diminuía e, alguns momentos, o único barulho ser das botas
arrastando no chão.
Em
silêncio, com medo até mesmo do som de sua respiração, ela voltou para os
andares superiores.
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