terça-feira, maio 30, 2017

O uivo da górgona - parte 67

67
Edgar olhou para suas mãos, apreensivo. Tinha uma faca na esquerda e um cutelo na direita. Tinham invadido uma loja de importados e se armado as facas cujas propagandas prometiam um corte perfeito. As imagens dos anúncios mostrava as facas cortando carne como manteiga. Edgar rezou para que fosse verdade.
- Vamos entrar juntos e evitar nos separar. – disse Jonas. A ideia é andar entre os carros e tentar pegar eles um a um. Não sei se vamos conseguir isso com todos, mas quanto mais diminuirmos o tamanho do grupo melhor, ok?
Alan e Edgar concordaram.
Então desceram para o estacionamento.
Ficaram lá, parados, esperando. Conforme seus olhos iam se acostumando à parca luminosidade, iam enxergando os vultos passando. Edgar já havia observado que o comportamento de multidão era errático e ampliado pelo uivo da górgona. Quando ela soava, eles se juntavam em grupos e se tornavam muito, muito mais violentos. Em outros momentos, eles simplesmente vagavam sem rumo, algumas vezes sozinhos. Só voltavam a se juntar em uma multidão compacta quando ouviam barulhos. Assim, teriam alguma chance se pegassem um a um.
A dúvida era se deveriam se expor, procurando um zumbi desgarrado, ou esperar ali por um que talvez nunca aparecesse.
Por fim, a sorte jogou a favor deles.
- Ali. – disse Jonas, apontando para o canto esquerdo.
Quanto teve certeza de que os outros já tinham visto, saiu correndo, as duas mãos com as facas erguidas. Edgar e Alan foram logo atrás dele.
A primeira facada acertou em cheio na garganta, que se abriu num jato de sangue.
Sim, sem dúvida, aquelas eram boas facas.
Os três terminaram o serviço, enquanto o zumbi engasgava em seu próprio sangue.
Edgar tentou não pensar que era um ser humano que estava ali, sendo morto implacavelmente.
Finalmente, a coisa parou de se mexer. Os três ficaram lá, parados, meio atônitos, até serem despertados por Jonas.
- Vamos sair daqui, rápido!
Os três se esconderam atrás de um carro, bem a tempo de ver um grupo se aproximar. Era um grupo pequeno, de dez ou doze zumbis. Vinham se arrastando e gemendo um matraquear incompreensível.
Jonas apontou para um deles, que vinha atrás, desgarrado dos outros.
Aguardaram pacientemente que o grupo passasse, então pularam sobre ele.
Alan e Edgar puxaram o zumbi na direção dos carros enquanto Jonas tentava acertar a jugular, como fizera com o outro. Mas dessa vez algo deu errado. Talvez tenha sido o fato dele estar sendo puxado na direção errada, ou talvez simplesmente Jonas tivesse sido incapaz de um golpe tão certeiro quanto da outra vez. O fato é que o outro soltou um urro quando a faca afiada passou por seu peito sujo, espalhando um rastro de sangue.
- Ai, meu Deus! – fez Alan.
Edgar não disse nada, mas concordou com o rapaz. O grito. O grito ia chamar os outros.
Jonas enterrou a faca na barriga do zumbi, enquanto Edgar fazia o mesmo na garganta, o que fez com que o grito se transformasse num gorgolejar que foi se esvaindo aos poucos, até que o corpo morto caísse no chão do estacionamento.

Só então os três puderam olhar às suas costas. Havia uma multidão ali, atrás deles. 

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