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Edgar olhou para suas mãos,
apreensivo. Tinha uma faca na esquerda e um cutelo na direita. Tinham invadido
uma loja de importados e se armado as facas cujas propagandas prometiam um
corte perfeito. As imagens dos anúncios mostrava as facas cortando carne como manteiga.
Edgar rezou para que fosse verdade.
- Vamos entrar juntos e evitar nos
separar. – disse Jonas. A ideia é andar entre os carros e tentar pegar eles um
a um. Não sei se vamos conseguir isso com todos, mas quanto mais diminuirmos o
tamanho do grupo melhor, ok?
Alan e Edgar concordaram.
Então desceram para o
estacionamento.
Ficaram lá, parados, esperando.
Conforme seus olhos iam se acostumando à parca luminosidade, iam enxergando os
vultos passando. Edgar já havia observado que o comportamento de multidão era
errático e ampliado pelo uivo da górgona. Quando ela soava, eles se juntavam em
grupos e se tornavam muito, muito mais violentos. Em outros momentos, eles
simplesmente vagavam sem rumo, algumas vezes sozinhos. Só voltavam a se juntar
em uma multidão compacta quando ouviam barulhos. Assim, teriam alguma chance se
pegassem um a um.
A dúvida era se deveriam se expor,
procurando um zumbi desgarrado, ou esperar ali por um que talvez nunca
aparecesse.
Por fim, a sorte jogou a favor
deles.
- Ali. – disse Jonas, apontando
para o canto esquerdo.
Quanto teve certeza de que os
outros já tinham visto, saiu correndo, as duas mãos com as facas erguidas.
Edgar e Alan foram logo atrás dele.
A primeira facada acertou em cheio
na garganta, que se abriu num jato de sangue.
Sim, sem dúvida, aquelas eram boas
facas.
Os três terminaram o serviço,
enquanto o zumbi engasgava em seu próprio sangue.
Edgar tentou não pensar que era um
ser humano que estava ali, sendo morto implacavelmente.
Finalmente, a coisa parou de se
mexer. Os três ficaram lá, parados, meio atônitos, até serem despertados por
Jonas.
- Vamos sair daqui, rápido!
Os três se esconderam atrás de um
carro, bem a tempo de ver um grupo se aproximar. Era um grupo pequeno, de dez
ou doze zumbis. Vinham se arrastando e gemendo um matraquear incompreensível.
Jonas apontou para um deles, que
vinha atrás, desgarrado dos outros.
Aguardaram pacientemente que o
grupo passasse, então pularam sobre ele.
Alan e Edgar puxaram o zumbi na
direção dos carros enquanto Jonas tentava acertar a jugular, como fizera com o
outro. Mas dessa vez algo deu errado. Talvez tenha sido o fato dele estar sendo
puxado na direção errada, ou talvez simplesmente Jonas tivesse sido incapaz de
um golpe tão certeiro quanto da outra vez. O fato é que o outro soltou um urro
quando a faca afiada passou por seu peito sujo, espalhando um rastro de sangue.
- Ai, meu Deus! – fez Alan.
Edgar não disse nada, mas
concordou com o rapaz. O grito. O grito ia chamar os outros.
Jonas enterrou a faca na barriga
do zumbi, enquanto Edgar fazia o mesmo na garganta, o que fez com que o grito
se transformasse num gorgolejar que foi se esvaindo aos poucos, até que o corpo
morto caísse no chão do estacionamento.
Só então os três puderam olhar às
suas costas. Havia uma multidão ali, atrás deles.
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