Quando
comecei a parceria com Bené, essa série já estava sendo publicada na revista
Calafrio. Bené tinha publicado uma primeira história, sobre um ladrão que entra
num antiquário e acaba se dando muito mal. Ele denominou essa HQ simples de
Zona do Crepúsculo em homenagem ao título original do seriado Além da
imaginação.
Depois
percebeu que havia ali potencial para uma série. Então veio Sonhos de outono.
E Belzebu,
nossa primeira juntos nessa série. Lembro que Bené chegou um dia comentando que
havia descoberto que Belzebu significava demônio das moscas e achava que isso
podia ser aproveitado numa HQ. O resultado foi uma história totalmente
não-linear, cheia de flash backs e com um forte conteúdo social. No fundo, o
demônio não seria o preconceito? Gostamos tanto do resultado que passamos a
usar narrativas não-lineares em quase todas as histórias que fizemos juntos
depois disso.
Então o
Rodolfo Zalla pediu uma última história para fechar a série, uma história que
juntasse as outras.
Mas como?
Não parecia haver nada em comum entre elas. Quebramos a cabeça durante muito
tempo até perceber que, sim, havia algo em comum: o dono da loja de
antiguidades! Assim focamos o último capítulo nele, inclusive com referências
às outras.
O leitor
mais atento vai perceber uma influência óbvia: A piada mortal. Sim, o demônio
da história é nossa versão do Coringa.
Uma
curiosidade nessa história é que Bené inverteu o processo. Ou seja: ao invés de
desenhar em preto sobre papel branco, ele desenhou em branco sobre papel preto,
uma técnica que poucos dominam.
Zalla estava
gostando tanto da Zona do Crepúsculo que nos pediu uma capa. Nossa história ia
ser a grande destaque da revista! De novo, tínhamos um desafio: como fazer essa
página sem revelar o conteúdo a HQ e dentro do espírito. A forma como
solucionamos isso mostra como já estávamos afinados à essa altura do
campeonato. Passamos longos minutos em silêncio, matutando, e, de repente, os
dois soltaram:
- Tive uma
ideia!
E era a
mesma ideia: o dono do antiquário abrindo a porta, com olhar assustado, a
imagem vista como se o leitor fosse quem estivesse do outro lado da porta.
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