A
maioria dos roteiristas se esquece completamente que o roteiro, antes de se
tornar uma história em quadrinhos, será lido por alguém. E esse alguém
geralmente é um desenhista. E, posso garantir: a maioria dos desenhistas não
são leitores vorazes.
Assim,
se o desenhista não ler, ou ler com pouca atenção, não irá desenhar, ou irá
cometer erros, e alguns podem tornar sua história quase incompreensível.
Uma
boa tática é “conversar” com o desenhista no roteiro, se você já souber quem é
ele. Em uma das histórias que escreveu para Supreme, Alan Moore escreveu para o
desenhista paraense Joe Bennett: “Joe, sei que você gosta de prédios
expressionistas. Você vai adorar essa história!”.
Eu
gosto de fazer pequenas piadinhas em meus roteiros. Pequenas anedotas que
prendem a atenção do desenhista e ajudam a explicar o que quero (não sei você
consegue entender exatamente, mas infelizmente não posso desenhar isso para
você. Afinal, você é o desenhista! rs).
Outra
coisa que aprendi é que nem sempre termos técnicos são uma boa solução,
especialmente se forem termos técnicos do cinema. Logo que comecei a escrever,
usei uma vez a expressão “câmera subjetiva”. Eu queria que a sequência de
imagens daquela página fosse vista sob o ponto de vista de determinado
personagem e é isso o que significa câmera subjetiva. Mas o desenhista não
entendeu e desenhou como quis. Mas para me satisfazer, desenhou uma câmera de
vídeo no fundo do quadro. Detalhe: uma câmera que não tinha a menor razão para
estar ali!
Ler
roteiros de outros escritores pode ser uma boa solução para tornar os seus
agradáveis. Você verá que o que se o roteiro é gostoso de ler, provavelmente o
resultado final também será. Uma vez tive acesso a um roteiro de um capítulo de
novela O cravo e a rosa, de Walcyr Carrasco. Esse é um noveleiro conhecido por
novelas divertidas, leves, com um toque de humor sutil e saudosista. O roteiro era
exatamente assim. Até mesmo as partes técnicas tinham essas características.
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