Aristóteles dizia que a comédia é a imitação das pessoas
inferiores. Enquanto a tragédia mostraria pessoas superiores, cujo
comportamento era louvável, a comédia mostraria pessoas cujo comportamento é
reprovável. Portanto, rimos daquilo que reprovamos. Mas o comportamento reprovável
muda de cultura para cultura. Um exemplo perfeito disso é o seriado Mister Bean,
um dos maiores sucessos da TV britânica.
Além da ótima atuação de Rowan Atkinson, que nos faz rir sem
dizer uma única palavra, há um outro fator que fez com que os ingleses se
deliciassem com o seriado: o caráter do protagonista.
Mister Bean é alguém que quer sempre levar vantagem em tudo, que
encontra sempre um jeitinho diferente para fazer as coisas. Se está no café da
manhã de um hotel, quer comer mais que os outros hóspedes (e, na pressa de
levar vantagem, acaba comendo ostras estragadas). Ao invés de contratar um
serviço de entrega para levar seu sofá novo, ele o coloca acima do carro, o que
acaba se revelando um desastre. Se perde o elevador, faz questão de atrasá-lo
para que os que estão dentro demorem a chegar a seus andares.
Os episódios têm quase que um padrão fixo: Mister Bean
geralmente tenta “dar um jeitinho em algo” ou levar vantagem em uma determinada
situação e, invariavelmente, se dá mal – o humor surge exatamente dessa dinâmica.
É sintomático que Mister Bean seja uma série inglesa. Na
Inglaterra, seguir as regras e pensar no bem comum é considerado o correto. Por
isso Mister Bean se torna risível para os britânicos: ele é a pessoa que sempre
tenta levar vantagem.
Aí vemos a diferença cultural entre Brasil e Inglaterra: aqui o
comportamento risível é justamente o oposto: rimos do “otário”, daquele que
parece ingênuo por não querer tirar vantagem das situações. O herói na grande
maioria das vezes é o malandro, o que dá um jeitinho. É a lei de Gerson.
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