O roteiro de quadrinhos Matheus Moura ficou
perplexo quando ouviu a música Abgail, de Kig Diamond. A história da maldição
narrada pela voz performática do cantor dinarmaquês o perseguiu durante anos,
até que ele resolveu adaptar para quadrinhos a história. O projeto, iniciado em
2006, só foi concluído em 2016. O resultado é o álbum A maldição de Lafey,
publicado em 2017 pela editora Reverso.
O álbum é uma união de vários acertos, a
começar pela decisão de colocar uma margem negra em volta dos quadros (que não
existiam na versão original). Isso ajudou a destacar o tom sinistro da história.
A capa, de Fábio Cobiaco e a contracapa, de Cláudio Dutra também são ótimas,
embora muito diferentes: a de Cobiaco trabalha mais com a sugestão, enquanto a de Cláudio Dutra é totalmente explícita,
trazendo em si a maioria dos elementos da história. O formato é outro acerto:
nem grande, nem pequeno, ele valoriza a arte e, ao mesmo tempo, torna agradável
a leitura.
Adaptar uma música não é trabalho fácil. Afinal,
uma música não é apenas a letra: há toda uma ambientação sonora que ajuda a
contar a história, que lhe dá o clima (aconselho aos que não conhecem o
trabalho de King Diamond ouvirem a música Abgail antes de lerem a história). Ainda
assim, Matheus Moura e Angelo Ron se saem muito bem. Um problema é o grande
hiato de tempo de produção entre a primeira e a segunda parte da história, que
sem dúvida se refletiu na arte, mas isso é comum em produções desse tipo.
A maldição de Lafey parece um daqueles
deliciosos filmes de terror trash das décadas de 1960 e 1970 e certamente vai
agradar aos fãs de horror.
Sem comentários:
Enviar um comentário