sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Edgar Morin e a teoria da complexidade

Um dos pensadores mais importantes da atualidade é o francês Edgar Morin. Suas idéias, inicialmente criadas para discutir a questão do conhecimento, espalharam-se por várias áreas e tornaram-se uma referência obrigatória na área de educação a partir do livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, escrito a pedido da Unesco.
         Essencialmente, o pensamento de Morin, chamado de teoria da complexidade, baseia-se na busca de uma ética na ciência e na crítica ao que ele considera os três pilares da ciência moderna: a ordem, a separabilidade e as lógicas indutivas e dedutiva. Morin também insiste na necessidade de se trabalhar com as limitações  do pensamento científico.
         A busca da ordem sempre foi o interesse principal da ciência. Para a ciência, caótico é tudo aquilo que é desconhecido. A partir do momento em que se descobre como algo funciona, revela-se a ordem.        
         A teoria da informação  ensina que ordem é falta de varidade/informação. Já caos é variedade/informação em estado puro. Um relógio é um exemplo perfeito de ordem. Ele sempre fará as mesmas coisas, sempre se movimentará de maneira uniforme a totalmente previsível. Já a bolsa de valores é um fenômeno mais caótico, pois é muito mais difícil prever seus movimentos.  Uma outra maneira de definir ordem, complementar à anterior, é através da determinação. Fenômenos ordenados são determinados. Determinação sugere uma relação causal. Se determinado fenômeno ocorre, ele terá obrigatoriamente uma conseqüência.
         A relação de causa e consequência é extremamente determinada na Ciência Clássica, por isso o relógio foi tomado como modelo do mundo.
         A crença na determinação fez com que os cientistas e filósofos sonhassem com a possibilidade de decifrar a verdade definitiva. A Ciência Clássica ignorava os fenômenos dinâmicos, que estão mais próximos do caos que da ordem. A bolsa de valores, o trânsito de cidade, as sociedades e até a vida humana são fenômenos que escapam ao determinismo. Morin vai criticar justamente essa idéia de determinismo, que até pouco tempo predominava nas ciências sociais. 
         Edgar Morin diz que a complexidade nos dá a liberdade, pois nos livra do determinismo. Não somos prisioneiros de uma determinação, seja biológica ou social. Ao contrário, construímos nosso próprio destino a partir de nossas escolhas, sejam elas conscientes ou não.
         Para Morin, portanto, o mundo é uma mistura de caos e ordem e o cientista deve aprender a lidar com ambos.
         A segunda parte da teoria de Edgar Morin, e também a mais difundida,  refere-se à crítica à separabilidade. A ciência sempre trabalhou com a idéia de que, para resolver um problema, é necessário dividi-lo em pequenas partes e estudá-las uma a uma.
         Esse princípio provocou a divisão do saber e a especialização, que permitiu um grande avanço tecnológico. Mas a especialização logo revelou suas deficiências, pois os cientistas, cada vez mais especializados, perderam a visão do todo.
         A teoria dos sistemas demonstrou que os fenômenos são processos de retroação contínua. É, portanto impossível em algumas situações estabelecer a causa e a conseqüência. O que é causa de um fenômeno é também causada por outro fenômeno numa rede de interações infinita.
Como conseqüência da separabilidade, a responsabilidade sobre as decisões, incompreensíveis para os leigos, são deixadas nas mãos de especialistas, que não consideram as conseqüências amplas de suas ações.
Em lugar da separabilidade, Morin propõe a complexidade, que significa abraçar o todo. Ou seja, é o princípio de que é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer as partes.
         A terceira parte da crítica de Edgar Morin à Ciência Clássica diz respeito à lógica indutiva. Desde Galileu a indução tem sido considerada o procedimento científico mais correto. Mas mesmo os defensores da dedução não conseguem responder a uma pergunta: quantos casos é necessário pesquisar para se  chegar a uma conclusão geral sobre o assunto? Morin usa a crítica de Karl Popper para fundamentar sua posição. Para Popper,  essa falha da indução faz com que ela não seja científica.
         Para Popper, a ciência só pode se utilizar da dedução, em que se faz uma generalização e depois vai se pesquisar casos singulares. Se os casos baterem com a hipótese, dizemos que ela foi corroborada (não confirmada, pois é possível que estudos futuros cheguem a conclusões diferentes). Se não baterem com a hipótese, dizemos que a mesma foi falseada. Popper demonstrou que só é científico aquele conhecimento que pode se mostrar falho, ao contrário do conhecimento teológico, que não pode ser falseado.
         Edgar Morin aproveitou a crítica de Popper à indução em sua filosofia, mas também fez crítica à dedução, citando o paradoxo lógico do mentiroso de Creta. Imagine que um cretense diz que todos os cretenses são mentirosos. Se ele estiver dizendo a verdade, está mentindo, pois ele também é cretense e, pela lógica, deveria estar mentindo. Se ele estiver mentindo, está dizendo a verdade. É uma situação que não tem escapatória lógica.
         Embora admita que a dedução é mais confiável que a indução, Morin propõe uma nova lógica, menos classificadora, que não fosse baseada no OU/OU, mas no E/E. Uma lógica complementar e não excludente, que permitisse termos contrários, como: “A vida surge da morte”. De fato, a morte do grão é o início da semente, que irá dar origem a outra planta. A cada dia nossa pele se renova em grande parte. É a morte das células da epiderme que nos permite continuar vivendo.


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