Um dos pensadores mais
importantes da atualidade é o francês Edgar Morin. Suas idéias, inicialmente
criadas para discutir a questão do conhecimento, espalharam-se por várias áreas
e tornaram-se uma referência obrigatória na área de educação a partir do livro
Os sete saberes necessários à educação do futuro, escrito a pedido da Unesco.
Essencialmente, o pensamento de Morin, chamado de teoria da
complexidade, baseia-se na busca de uma ética na ciência e na crítica ao que
ele considera os três pilares da ciência moderna: a ordem, a separabilidade e
as lógicas indutivas e dedutiva. Morin também insiste na necessidade de se
trabalhar com as limitações do
pensamento científico.
A busca da ordem sempre foi o interesse principal da
ciência. Para a ciência, caótico é tudo aquilo que é desconhecido. A partir do
momento em que se descobre como algo funciona, revela-se a ordem.
A teoria da informação
ensina que ordem é falta de varidade/informação. Já caos é
variedade/informação em estado puro. Um relógio é um exemplo perfeito de ordem.
Ele sempre fará as mesmas coisas, sempre se movimentará de maneira uniforme a
totalmente previsível. Já a bolsa de valores é um fenômeno mais caótico, pois é
muito mais difícil prever seus movimentos.
Uma outra maneira de definir ordem, complementar à anterior, é através
da determinação. Fenômenos ordenados são determinados. Determinação sugere uma
relação causal. Se determinado fenômeno ocorre, ele terá obrigatoriamente uma
conseqüência.
A relação de causa e consequência é extremamente determinada
na Ciência Clássica, por isso o relógio foi tomado como modelo do mundo.
A crença na determinação fez com que os cientistas e
filósofos sonhassem com a possibilidade de decifrar a verdade definitiva. A Ciência
Clássica ignorava os fenômenos dinâmicos, que estão mais próximos do caos que
da ordem. A bolsa de valores, o trânsito de cidade, as sociedades e até a vida
humana são fenômenos que escapam ao determinismo. Morin vai criticar justamente
essa idéia de determinismo, que até pouco tempo predominava nas ciências
sociais.
Edgar Morin diz que a complexidade nos dá a liberdade, pois
nos livra do determinismo. Não somos prisioneiros de uma determinação, seja
biológica ou social. Ao contrário, construímos nosso próprio destino a partir
de nossas escolhas, sejam elas conscientes ou não.
Para Morin, portanto, o mundo é uma mistura de caos e ordem
e o cientista deve aprender a lidar com ambos.
A
segunda parte da teoria de Edgar Morin, e também a mais difundida, refere-se à crítica à separabilidade. A
ciência sempre trabalhou com a idéia de que, para resolver um problema, é
necessário dividi-lo em pequenas partes e estudá-las uma a uma.
Esse princípio provocou a divisão do
saber e a especialização, que permitiu um grande avanço tecnológico. Mas a
especialização logo revelou suas deficiências, pois os cientistas, cada vez
mais especializados, perderam a visão do todo.
A
teoria dos sistemas demonstrou que os fenômenos são processos de retroação
contínua. É, portanto impossível em algumas situações estabelecer a causa e a
conseqüência. O que é causa de um fenômeno é também causada por outro fenômeno
numa rede de interações infinita.
Como conseqüência da separabilidade, a
responsabilidade sobre as decisões, incompreensíveis para os leigos, são
deixadas nas mãos de especialistas, que não consideram as conseqüências amplas
de suas ações.
Em lugar da separabilidade, Morin propõe a complexidade,
que significa abraçar o todo. Ou seja, é o princípio de que é impossível
conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer
as partes.
A
terceira parte da crítica de Edgar Morin à Ciência Clássica diz respeito à lógica
indutiva. Desde Galileu a indução tem sido considerada o procedimento
científico mais correto. Mas mesmo os defensores da dedução não conseguem
responder a uma pergunta: quantos casos é necessário pesquisar para se chegar a uma conclusão geral sobre o assunto?
Morin usa a crítica de Karl Popper para fundamentar sua posição. Para
Popper, essa falha da indução faz com
que ela não seja científica.
Para
Popper, a ciência só pode se utilizar da dedução, em que se faz uma
generalização e depois vai se pesquisar casos singulares. Se os casos baterem
com a hipótese, dizemos que ela foi corroborada (não confirmada, pois é
possível que estudos futuros cheguem a conclusões diferentes). Se não baterem
com a hipótese, dizemos que a mesma foi falseada. Popper demonstrou que só é
científico aquele conhecimento que pode se mostrar falho, ao contrário do
conhecimento teológico, que não pode ser falseado.
Edgar
Morin aproveitou a crítica de Popper à indução em sua filosofia, mas também fez
crítica à dedução, citando o paradoxo lógico do mentiroso de Creta. Imagine que
um cretense diz que todos os cretenses são mentirosos. Se ele estiver dizendo a
verdade, está mentindo, pois ele também é cretense e, pela lógica, deveria
estar mentindo. Se ele estiver mentindo, está dizendo a verdade. É uma situação
que não tem escapatória lógica.
Embora
admita que a dedução é mais confiável que a indução, Morin propõe uma nova
lógica, menos classificadora, que não fosse baseada no OU/OU, mas no E/E. Uma
lógica complementar e não excludente, que permitisse termos contrários, como:
“A vida surge da morte”. De fato, a morte do grão é o início da semente, que
irá dar origem a outra planta. A cada dia nossa pele se renova em grande parte.
É a morte das células da epiderme que nos permite continuar vivendo.
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