Spirit é um dos mais queridos e mais clássicos personagens
dos quadrinhos. Criado por Will Eisner na década de 1940, o personagem
revolucionou a narrativa gráfica esbanjando as potencialidades da linguagem e
criando recursos únicos, como prédios que formavam o título da história ou o
nome do personagem. Além disso, a série revolucionou ao focar não só no
protagonista, mas principalmente em personagens secundários, o que dava um
toque muito humano à série.
Por ser um personagem autoral, Eisner não autorizava que a
editora que publicava o personagem desde a década de 1970, a kitchen, fizesse
histórias do herói com outros autores.
Em 1998 o editor convenceu o Eisner a finalmente permitir
uma publicação com vários autores mostrando suas versões do personagem. O
resultado é o álbum publicado pela editora Devir.
O resultado é irregular. Algumas histórias conseguem captar
a essência inovadora do personagem – outras são simplesmente histórias do
personagem.
Entre o melhor da edição estão as histórias escritas por
Alan Moore e desenhadas por Dave Gibbons, que abrem a edição. As duas HQs
interligadas conta a origem de dois dos principais vilões do Spirit: O Cobra e
o Octopus. As duas, ao focarem nos vilões, exploram seus lados humanos,
inclusive com as contradições entre as duas narrativas. A ironia entre o que
ambos relatam e o que de fato acontece cria alguns dos melhores momentos dessas
HQs.
A dupla ainda entrega outra história genial, agora sobre o
assistente do Doutor Cobra, que teria morrido na primeira história do Spirit.
Moore, como sempre, costura tudo, aproveitando as pontas soltas das histórias
originais.
Outro ponto alto do álbum é “Domingo no parque com São
Jorge”. O desenho underground de Dan Burr se encaixa perfeitamente com a
narrativa de Jim Vance sobre o dia em que Spirit foi convencido a descansar no
parque – o que, claro, o coloca em uma tremenda confusão.
Temos ainda Neil Gaiman fazendo o que Neil Gaiman sempre
faz: uma história sobre um escritor escrevendo algo que se entremeia à
narrativa. No caso, um roteirista de cinema que tenta escrever um roteiro
policial e se depara com o Spirit investigando um caso real. Apesar do clichê a
la Gaiman, é uma HQ divertida.
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