Em tempos como esse, de stress e
materialismo, são muitas as pessoas que se empenham em tentar aquilo que se
convencionou denominar de auto-conhecimento. Essa busca espiritual foi
aproveitada pelos chamados livros de auto-ajuda, muitos dos quais a mais
descarada empulhação, com receitas furadas para se alcançar a felicidade. Não
espere encontrar algo assim em “Iniciação ao Taoísmo”, de Wu Jyh Cherng. Sério
e, ao mesmo tempo coloquial, o volume é indicado para quem conhecer melhor essa
filosofia/religião oriental.
Conta a lenda que o primeiro
livro taoista, o Tao Te King (ou Ching, segundo alguns tradutores) foi escrito
pelo sábio Lao Tse quando este se preparava para deixar a China. O soldado que
guardava a fronteira, tentando evitar que o sábio homem abandonasse o país,
exigiu dele uma obra que contivesse toda a sua filosofia.
Com isso ele pretendia segurar o
homem pelo menos mais um ano. Enganou-se. Lao Tse escreveu o Tao te King de uma
sentada só. Essa coletânea de ótimas poesias influenciou decisivamente o
pensamento chinês e deu origem à medicina tradicional e à astrologia chinesa.
No Japão, a palavra para tao é Do, que deu origem à arte marcial Judô (caminho
da suavidade) à caligrafia Shodo (caminho da escrita) e à arte do espadachim
Kendo (caminho da espada). No Ocidente, o taoismo deu origem até a técnicas de
marketing (esse último item foi obra de All Ries em seu livro Marketing de
Guerra).
Como a história acima indica, o
taoismo é uma filosofia simples e flexível.
Uma característica especial do
taoismo é sua tolerância com outras formas de pensamento ou de religião. Para
os mestres taoistas, o universo é como uma árvore. Todas as suas partes têm uma
origem em comum, a raiz, mas são naturalmente diferentes. “Aceitar a
diversidade dos ramos é saber respeitar as diferenças entre as pessoas, entre
as religiões, entre as culturas, entre as raças. Ter respeito pela diversidade
e compreender a essência é exatamente uma das buscas e um dos propósitos dos antigos
mestres taoistas”, escreve Cherng.
Como resultado disso, você
dificilmente encontrará um taoista discutindo com um católico ou com um
muçulmano. A filosofia taoista prega que todas as religiões são galhos da mesma
árvore. Esse respeito para com outras formas de credo é percebido no texto de
“Iniciação ao Taoismo”. De tempos em tempos, Cherng lembra que muitas religiões
discordam de seu ponto de vista, não com o objetivo de criticá-las, mas para
lembrar que as opiniões divergentes são fruto das características de cada
galho.
Mas, afinal, o que é o taoismo?
Para começo, Tao significa caminho. Mas um caminho só existe enquanto é vivido.
“Para vivê-lo”, escreve Cherng, “existe o ato de caminhar, existe a prática,
existe a vivência”.
O taoismo é vivido no dia-a-dia e
não como algo sagrado, que deve ser colocado em um altar. Pelo contrário,
deve-se usar seus ideais em todos os momentos, no convívio com os filhos, com
os subordinados, na hora de comprar sapatos ou consertar motocicletas...
Ao contrário de outras religiões,
como o catolicismo, o taoismo considera que não é necessário sofrer para
alcançar a virtude espiritual. “O taoismo não trabalha com culpas, remorsos,
muito pelo contrário. Tentamos remover as culpas e os remorsos”, afirma Cherng.
Para os taoistas, a vida deve ser vivida com saúde e alegria. Afinal, não é
melhor antecipar o fim do sofrimento, vivendo, desde já, o paraíso?
Para conseguir esse estado de
espírito é necessária a simplicidade e a paz de espírito. Não é necessário se
mudar para um templo ou se refugiar no topo de uma montanha para conseguir
isso, até porque, para uma alma conturbada, até um passarinho cantando é um
incômodo. Basta não criar expectativas antes dos eventos, não complicar as
coisas durante os acontecimentos e não remoer o que já passou.
A primeira regra do caminho da
realização pessoal é tomar consciência de si, descobrir o que você gosta e o
que não gosta em si mesmo. Primeiro devemos aceitar o nossos aspectos
negativos, para depois trabalha-los, nos tornando mais tolerantes, abrangentes
e flexíveis.
Se isso pareceu psicologia, não
foi por acaso. O famoso psicanalista Carl Gustav Jung foi buscar no taoismo
subsídios para boa parte de suas formulações.
Wu Jyh Cherng é presidente da
Sociedade Taoísta do Brasil, acumpurista, especialista em medicina taoísta e
orienta mestres de Tai Chi Chuan. Ninguém mais abalizado para escrever sobre o
assunto, portanto.
Sem comentários:
Enviar um comentário