sexta-feira, junho 29, 2018

Iniciação ao taoismo


Em tempos como esse, de stress e materialismo, são muitas as pessoas que se empenham em tentar aquilo que se convencionou denominar de auto-conhecimento. Essa busca espiritual foi aproveitada pelos chamados livros de auto-ajuda, muitos dos quais a mais descarada empulhação, com receitas furadas para se alcançar a felicidade. Não espere encontrar algo assim em “Iniciação ao Taoísmo”, de Wu Jyh Cherng. Sério e, ao mesmo tempo coloquial, o volume é indicado para quem conhecer melhor essa filosofia/religião oriental.
Conta a lenda que o primeiro livro taoista, o Tao Te King (ou Ching, segundo alguns tradutores) foi escrito pelo sábio Lao Tse quando este se preparava para deixar a China. O soldado que guardava a fronteira, tentando evitar que o sábio homem abandonasse o país, exigiu dele uma obra que contivesse toda a sua filosofia.
Com isso ele pretendia segurar o homem pelo menos mais um ano. Enganou-se. Lao Tse escreveu o Tao te King de uma sentada só. Essa coletânea de ótimas poesias influenciou decisivamente o pensamento chinês e deu origem à medicina tradicional e à astrologia chinesa. No Japão, a palavra para tao é Do, que deu origem à arte marcial Judô (caminho da suavidade) à caligrafia Shodo (caminho da escrita) e à arte do espadachim Kendo (caminho da espada). No Ocidente, o taoismo deu origem até a técnicas de marketing (esse último item foi obra de All Ries em seu livro Marketing de Guerra).
Como a história acima indica, o taoismo é uma filosofia simples e flexível.
Uma característica especial do taoismo é sua tolerância com outras formas de pensamento ou de religião. Para os mestres taoistas, o universo é como uma árvore. Todas as suas partes têm uma origem em comum, a raiz, mas são naturalmente diferentes. “Aceitar a diversidade dos ramos é saber respeitar as diferenças entre as pessoas, entre as religiões, entre as culturas, entre as raças. Ter respeito pela diversidade e compreender a essência é exatamente uma das buscas e um dos propósitos dos antigos mestres taoistas”, escreve Cherng.
Como resultado disso, você dificilmente encontrará um taoista discutindo com um católico ou com um muçulmano. A filosofia taoista prega que todas as religiões são galhos da mesma árvore. Esse respeito para com outras formas de credo é percebido no texto de “Iniciação ao Taoismo”. De tempos em tempos, Cherng lembra que muitas religiões discordam de seu ponto de vista, não com o objetivo de criticá-las, mas para lembrar que as opiniões divergentes são fruto das características de cada galho.
Mas, afinal, o que é o taoismo? Para começo, Tao significa caminho. Mas um caminho só existe enquanto é vivido. “Para vivê-lo”, escreve Cherng, “existe o ato de caminhar, existe a prática, existe a vivência”.
O taoismo é vivido no dia-a-dia e não como algo sagrado, que deve ser colocado em um altar. Pelo contrário, deve-se usar seus ideais em todos os momentos, no convívio com os filhos, com os subordinados, na hora de comprar sapatos ou consertar motocicletas...
Ao contrário de outras religiões, como o catolicismo, o taoismo considera que não é necessário sofrer para alcançar a virtude espiritual. “O taoismo não trabalha com culpas, remorsos, muito pelo contrário. Tentamos remover as culpas e os remorsos”, afirma Cherng. Para os taoistas, a vida deve ser vivida com saúde e alegria. Afinal, não é melhor antecipar o fim do sofrimento, vivendo, desde já, o paraíso?
Para conseguir esse estado de espírito é necessária a simplicidade e a paz de espírito. Não é necessário se mudar para um templo ou se refugiar no topo de uma montanha para conseguir isso, até porque, para uma alma conturbada, até um passarinho cantando é um incômodo. Basta não criar expectativas antes dos eventos, não complicar as coisas durante os acontecimentos e não remoer o que já passou.
A primeira regra do caminho da realização pessoal é tomar consciência de si, descobrir o que você gosta e o que não gosta em si mesmo. Primeiro devemos aceitar o nossos aspectos negativos, para depois trabalha-los, nos tornando mais tolerantes, abrangentes e flexíveis.
Se isso pareceu psicologia, não foi por acaso. O famoso psicanalista Carl Gustav Jung foi buscar no taoismo subsídios para boa parte de suas formulações.
Wu Jyh Cherng é presidente da Sociedade Taoísta do Brasil, acumpurista, especialista em medicina taoísta e orienta mestres de Tai Chi Chuan. Ninguém mais abalizado para escrever sobre o assunto, portanto.  

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