A morte do Super-homem é um ótimo exemplo de deus ex-machina |
A morte do Super-homem
foi um sucesso estrondoso. Vendeu milhões de exemplares na década de 1990. No
entanto, a grande maioria das pessoas que comprou na época hoje, ao reler, considera
essa uma história ruim do personagem.
A razão disso é um deus
ex machina.
Deus ex machina é
qualquer solução que não faça parte da lógica da história. É um recurso que
destrói o pacto de verossimilhança, pois o leitor percebe que há algo errado
ali, algo parece não fazer sentido.
A maioria das pessoas
costuma imaginar o deus ex machina como uma solução para salvar o herói. O
protagonista está prestes a ser enforcado quando aparece do nada alguém para
salvá-lo. Mas a morte do Super-home mostra que o deus ex machina pode ser também
o oposto: alguém que aparece do apenas para matar o personagem.
A história dessa saga é
atribulada.
Nos anos 1990 o
departamento de marketing das editoras exigia eventos sensacionalistas que
ajudassem a vender os gibis. A equipe do Super-homem decidiu casar o
personagem. Mas surgiu uma dificuldade: na época o homem de aço tinha um
seriado live action de sucesso e iria se casar com Lois Lane, mas só no ano
seguinte. Se ele casasse nos quadrinhos, teria que ser em sincronia com o
seriado.
Foi quando tiveram a
ideia de matar o Super-homem. Mas o prazo era curto, então a solução foi
simplesmente introduzir do nada um personagem super-poderoso que não fala uma única
palavra durante toda a história, derrota todos os super-heróis (sem matar
nenhum) e finalmente mata o Homem de aço. Apocalipse parecia ter sido criado
com um único objetivo: providenciar a necessidade que os roteiristas tinham de
criar um evento bombástico criado não só para vender gibis, mas também
bonequinhos.
O personagem Apocalypse surge do nada, apenas para matar o homem de aço. |
Um personagem tirado
da cartola que derrota todo mundo, mas não mata ninguém além do Super-homem é
um ótimo exemplo de um deus ex machina. Uma falha do roteiro que se tornou
ainda mais evidente quando o personagem simplesmente voltou da morte.
Na contramão da
correria que foi a morte do Super-homem temos uma das melhores sagas dos
quadrinhos de super-heróis, a saga da Fênix Negra.
No número 125 da
revista X-men, Claremont mostra Moira realizado testes com a Fênix e o diálogo
posterior mostra ambas preocupadas que o poder imenso da personagem possa sair
do controle. No número seguinte, uma “alucinação” mostra Jean Grey caçando um
homem vestido de cervo, o que já demonstra o lado negro da personagem vindo à
tona. A personagem pensa: “Um homem?! Eu queria matá-lo! Estava prestes a... o
que está acontecendo comigo?”.
A saga da Fênix é um exemplo de solução dentro da lógica da história. |
Assim como esse, vários
outros indícios de que há algo errado com a personagem vão sendo mostrados até
que ela se alia ao Clube do inferno na edição 132. Quando no número 134 ela se
transforma na Fênix Negra, uma das maiores vilãs que o universo Marvel já
conheceu, o leitor lê e pensa: “Sim, isso faz sentido. Ela era uma heroína, mas
eu acomapanhei sua transformação em vilã”.
Claremont e Byrne
levaram nove números construindo a lógica da história, de modo que o surgimento
da Fênix Negra parece consequência óbvia do que veio antes.
Não é à toa que a Saga
da Fênix é até hoje considerada uma das melhores histórias de super-herois de
todos os tempos, e parece melhor a cada leitura. Ao contrário da morte do
Super-homem.
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