Engana-se quem acha que com a internet os zines sumiram. Eles resistem, cada vez mais criativos. Ótimo exemplo disso é o Arteira, produzido por minha aluna Luiza Nobre. O zine, em formato A5, é uma página de papel chamex cortado e dobrado engenhosamente para formar um caderno. O conteúdo, colagens de fotos e um poema da autora. Eu sempre defendi que os zines juntamente com a música são os melhores veículos para a poesia. A poesia reunida em livros parece estagnada, parada. Em zines parece viva.
Não lembraram de perguntar à Mona Lisa se ela gostou do que viu.
Deixo com vocês parte dessa poesia:
Em corredores infinitos de molduras
Elas estão despidas
Estáticas
Sob os olhos do pintor.
Veneradas
As mulheres entram nas galerias
Como musas santificadas
Como Vênus
De Botticelli ou de Milo.
Como Dora Maar,
Que foi poeta, pintora e fotografou.
Mas ficou conhecida como amante do Picasso
Nos rodapés dos livros
Com o colo cheio de gatos
No cubismo do amado.
Não lembraram de perguntar à Mona Lisa se ela gostou do que viu.
Como Lee Miller
Que largou a moda
Pra fotografar guerra
Mas ficou lembrada como
A que se lava na banheira do ditador.
Como Clara Peeters
Que escondia autorretrato
Na natureza-morta
Dos seus quadros
E no anonimato atrás da cor.
Não lembraram de perguntar à Mona Lisa se ela gostou do que viu.
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