sexta-feira, agosto 10, 2018

Capitão América e Falcão – o império secreto



Quando Steve Englehart assumiu o título do Capitão América, em 1974, ele estava em vias de ser cancelado em decorrência das baixas vendas. Em seis meses o roteirista o transformou em uma das revistas mais vendidas da Mavel. A razão para esse sucesso pode ser visto no volume XXX da coleção de graphics Marvel da Salvat.
Englehart debruça-se sobre o que é ser um herói. Ser um herói é simplesmente lutar contra vilões em aventuras repletas de bordoadas? Ou algo mais? E quem é o vilão? Se na época da II Guerra Mundial era muito fácil identificar os vilões na figura dos nazistas, na década de 1970, em pleno escândalo de Watergate isso era algo muito mais complexo.
A história toda gira em torno de uma série de fake News criadas por uma sociedade maligna (O império secreto) para desacreditar o Capitão América. A propaganda criada pelo grupo distorce fatos – um momento em que o Capitão empurra policiais para atacar um vilão é mostrado como uma agressão à autoridade, por exemplo.
Vítima dessa campanha de difamação, o Capitão acaba preso por um crime que não cometeu e terá de provar sua inocência.
O plot em si já é o suficiente para tornar a trama relevante até o dias atuais (embora atualmente as fake News se espalhem muito mais pelas redes sociais), mas Englehart, além disso, escreve bem, um texto simples, fluente, que casa perfeitamente com a arte de Sal Buscema (na época muito influenciado por Jack Kirby).
A melhor história do volume é a última, “O Capitão América deve morrer”, curiosamente a única que não tem ação. A HQ toda é uma reflexão sobre o que é ser herói. Perturbado pelos acontecimentos da saga, pela constatação de que pessoas do governo estavam tramando para transformar os EUA em uma ditadura e com a forma como o povo se deixou enganar pelas notícias falsas, voltando-se contra ele, Steve Roger pensa em abandonar a vida de herói. Várias pessoas tentam convencê-lo do contrário, de Thor ao Homem-de-ferro, passando pelo companheiro Falcão e os diálogos são um verdadeiro ensaio sobre qual o significado do heroísmo  nos tempos modernos e sobre como mesmo um país como os EUA estão sempre à sombra do autoritarismo.
Uma frase do Falcão é um dos grandes momentos dessa história: “Heróis são pessoas especiais porque são um exemplo público do que é certo”. Em uma era como a nossa, em que pessoas que não fazem a menor questão de fazer o que é certo são chamadas de heróis histórias como essa mostram sua relevância.   

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