Em 2010 a DC Comics completou 75
anos. Para comemorar, a Panini lançou no Brasil uma coleção em quatro volumes,
cada um reunindo histórias de um período: Era de Ouro, Era de Prata, Era de
Bronze, Era Moderna.
O volume Era de Ouro reunia as
primeiras histórias de alguns dos personagens mais populares da editora, a
começar, claro, pelo Super-homem, o personagem que não só criou a DC como
fundou todo um novo gênero nos quadrinhos.
A história que abre o volume é a
primeira do Homem de aço, cuja capa se tornou célebre com o herói batendo um
carro contra uma pedra enquanto malfeitores fogem apavorados. Essa história
havia sido recusada por vários editores – e dá para perceber facilmente as razões.
A trama é mal-engendrada, com pulos narrativos estranhos.
Depois de uma pequena introdução,
na qual Jerry Siegel, o roteirista, estabelece a verossimilhança da história
comparando o personagem às formigas que carregam várias vezes seu peso ou o
gafanhoto capaz de dar saltos enormes, a história começa no meio. O Super-homem
salta no ar com uma moça nos braços. Ela é a verdadeira culpada de um crime e o
herói precisa convencer o governador a perdoar uma moça que será executada em
seu lugar. Depois a história pula para outra trama e para outra, sem muita
conexão.
A sequência do carro, apesar de
famosa, é bizarra. Bandidos sequestram Lois Lane. O Super-homem pega o carro em
que estão e o sacode, fazendo os bandidos caírem – o problema é que pela lógica,
também a jornalista cairia do carro. Siegel, um garoto na época, estava nos
seus primeiros passos como roteiristas e o que acaba se destacando é a arte de
Joe Shuster. Seu desenho elegante certamente foi fundamental para o sucesso do
personagem.
O volume traz também a origem do
Flash, escrita por Gardner Fox e desenhada por Harry Lampert. Fox também
escreve a história da Sociedade da Justiça. Seu texto estava muito longe do que
viria a ser na era de prata, quando ele ajudaria a revolucionar os heróis DC. O
roteirista parecia estar convencido de que escrevia exclusivamente para
crianças – o que fica óbvio na história da Sociedade da Justiça, mas também
pode ser percebida na origem do Flash.
Lendo essas histórias há coisas
que parecem estranhas. Flash, por exemplo, se transforma no herói graças a um
acidente provocado pelo fato dele estar fumando no laboratório de química! O interesse
romântico do personagem, Joan, parece uma patricinha convencida, que se
interessa pelo herói apenas quando ele usa suas habilidades recém-adquiridas
para ganhar o campeonato de futebol americano. Além disso, o uniforme do Flash
surge do nada, no meio da HQ.
As duas melhores HQs do volume são
as dedicadas ao Capitão Marvel e à Mulher Maravilha.
O desenho de CC Beck no Capitão
Marvel é simplesmente lindo. Com poucos traços, mas eficiente e com sequências
que remetem diretamente à art decó, como no quadro em que aparece o metrô. O
uniforme do personagem é igualmente bonito. Além disso, o roteiro de Bill
Parker já nos apresenta um personagem acabado, e não em construção. Sua origem é
bem estabelecida, assim como o clima das histórias, voltado para a magia – em oposição
ao Super-homem, que era calcado na pseudo-ciência.
A melhor história do volume é a
origem da Mulher Maravilha, escrita por Charles Moulton com desenhos de H. G. Peter.
Peter já era um desenhista de
experiência quando embarcou no mundo dos quadrinhos e isso é facilmente perceptível
pela forma competente como ele cria visualmente a Ilha Paraíso. Seu desenho tem
um apelo vintage que o faz interessante até os dias atuais.
Mas o destaque vai mesmo para o
texto de Moulton (pseudônimo do psicólogo William Marston). Marston tem pleno
domínio da narrativa e cria sua própria versão da mitologia grega,
atualizando-a e adequando à personagem. Até
mesmo quando os quadrinhos são substituídos por texto corrido acompanhado de
ilustrações, a história não perde o encanto, tal a qualidade do texto.
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