Tenho visto em vários programas
sensacionalistas situações de filhos de mães solteiras que buscam a todo custo
o pai que os abandonou. Em alguns casos, situações aviltantes, em que o “pai”
não reconhece o filho mesmo após exames de DNA. Filhos chorando diante de pais
impassíveis implorando para serem aceitos.
Eu ficava me perguntando: o que
leva alguém a se sujeitar a situação tão humilhante?
Pode parecer apenas carência
afetiva, mas é muito mais: é a necessidade extrema de uma figura de autoridade.
Minha mãe conta que quando eu era
pequeno, ela saía mais cedo para ir para o trabalho. Algumas vezes o ônibus da
empresa atrasava e ela me via passando, todo empacotado, encolhido de frio,
indo para a escola.
E pensava: “Ele poderia ficar em
casa com esse frio, mas mesmo assim vai para a escola”.
De fato, eu tomava café, me
arrumava e saía para a escola sem a necessidade de ninguém por perto para
mandar.
A mesma coisa com todas as outras
responsabilidades da vida: nunca precisei de ninguém por perto me dizendo: faz
isso, faz aquilo. Eu sabia sempre soube o que fazer e fazia.
Há uma piada entre meus amigos
professores. Certa vez que fomos a um terreno no interior, meu carro foi o
único parado em uma blitz da Polícia Federal. A anedota é que eu tinha sido
parado por excesso de legalidade...
Mas há muitas pessoas que não são
assim. Se não tiverem uma figura de autoridade ali, do lado, cobrando, não
levantam cedo para a ir para a escola, não acordam para ir para o trabalho, não
pagam suas contas, faltam ou se atrasam em seus compromissos. É a pessoa que gasta
todo o salário no bar, esquecendo as dívidas do dia seguinte. Elas precisam de
uma figura de autoridade que lhes diga o que fazer e como se comportar.
Essa figura de autoridade é
simbolicamente representada pelo pai. Tiranos usam isso. Elas se apresentam
como figuras simpáticas, mas principalmente autoritárias. São figuras de
autoridade, representantes paternos. São pessoas a quem se deve obedecer.
Pelo que tenho visto, quem adere
a essas figuras de autoridade são justamente aqueles que carecem de uma figura
de autoridade para nortear-lhes a vida. É a pessoa que precisa de alguém que os
mantenha no cabresto, uma figura de autoridade que lhes diga o que fazer e
quais são as responsabilidades que devem ser cumpridas. Eleger como ídologo uma
figura de autoridade é uma forma de compensar a própria falta de freios.
É também a razão de tanto
fanatismo: qualquer crítica ou mesmo satíra ao ídolo é como se fosse uma ofensa
ao pai.
George Orwell errou ao chamar seu
ditador de Grande Irmão. Deveria se chamar Grande Pai.
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