Em
1986, a Itália viu surgir um personagem de quadrinhos que viraria uma
verdadeira febre, chegando a vender um milhão de exemplares mensais e sendo
republicado duas vezes, ao mesmo tempo que a edição normal. Era Dylan Dog, o
detetive do pesadelo.
Dylan
foi criação de Tiziano Sclavi, um jornalista e escritor italiano, fã de terror.
Sclavi dotou sua série de uma bem elaborada mitologia que conquistou os fãs.
Assim, Dylan é um ex-agente da Scotland
Yard, ex-alcoólatra, que vive de solucionar casos misteriosos envolvendo
vampiros, lobisomens, múmias e mais todo tipo de monstros e pesadelos. Ele usa
sempre calça jeans, camisa vermelha e blazer preto, mora em uma casa que tem uma
campainha que grita, toca clarinete quando precisa refletir sobre algum caso e
faz muito sucesso com as mulheres.
Dylan
tem como assistente o piadista Grouxo, baseado no comediante Grouxo Marx, que
dá o alívio cômico para a série. Mesmo nos piores momentos, Grouxo tem uma
piada na manga. Algumas delas:
“Ontem
salvei uma mulher que estava para ser violentada. Bastou eu me controlar.”
“As
mulheres são loucas por mim! Ontem à noite uma garota ficou batendo na minha
porta durante horas, mas eu não a deixei sair”.
“Sei
ficar em silêncio em quinze idiomas”.
“Este
papagaio é estraordinário, senhora! Bota ovos quadrados. E sabe falar? Bem,
sabe dizer ai”.
Quando
o desenhista perguntou a Sclavi como deveriam ser as feições do personagem,
este respondeu: “Como Rupert Everett”. Fazer personagens como feições de gente
famosa não é novidade nos comics italianos. Ken Parker, por exemplo, é a cara
de Robert Redford. Esse expediente parece aumentar ainda mais a aura pop dos
personagens.
Sclavi
juntou tudo num mesmo caldeirão: referências pop, romantismo, humor, terror e
até surrealismo. Sim, alguns das melhores histórias do personagem são aquelas
em que se perde a referência do real e parece que o leitor entrou num mundo
onírico em que qualquer coisa pode acontecer.
O
sucesso extraordinário de detetive do pesadelo fez com que a editora Sérgio
Bonelli, que publica o personagem, criasse o Dylan Dog Horror Festival, uma
exibição de filmes à qual comparecem milhares de pessoas vestidas de monstros
ou como personagens da série. Além do festival, Dylan serviu de inspiração para
agendas, adesivos, embalagens, jogos, vide-games, campanhas contra as drogas,
simpósios e teses acadêmicas. Nas palavras do jornalista Sidney Gusman, Sclavi
conseguiu criar uma história em quadrinhos de autor que, ao mesmo tempo, é
imensamente popular.
No
Brasil, Dylan Dog foi publicado primeiramente pela Record, no início dos anos
1990. Mas o personagem que sobrevivera a tantos monstros não conseguiu resistir
à crise e acabou sendo cancelado depois de poucos números. Em 2001, a editora
Conrad resolveu publicar o fumetti numa série de 6 números com um formato mais
alongado, papel de melhor qualidade e capas de Mike Mignola. As vendas não
foram as esperadas, e o personagem acabou passando para a Mythos, que já
publicava diversos outros quadrinhos da Bonelli, como Tex, Zagor, Ken Parker e
Júlia, durando até o número 40.
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