Roma, de Alfonso Cuarón, é o primeiro filme produzido pela Netflix
a concorrer ao Oscar. E é uma indicação merecida.
O filme tem como protagonista uma empregada doméstica a serviço de
uma família de classe média.
Os acontecimentos da família e do país são acompanhados sob o
olhar dessa mulher descendente de indígenas. Grávida e abandonada pelo
namorado, sua história se mescla à da patroa, abandonada pelo marido. Para nós é
chocante como a legislação da época era totalmente permissiva, permitindo, por
exemplo, que um homem abandonasse a esposa com quatro filhos sem sequer
contribuir financeiramente com a antiga família – ou o rapaz de periferia que
simplesmente desaparece quando descobre que a namorada está grávida.
Não por acaso, o namorado participa de uma milícia, que, junto com
a polícia, foi responsável pelo massacre de Corpus Christi, em que centenas de
pessoas foram mortas durante um protesto estudantil (uma das cenas de maior
impacto do filme). O drama familiar se mescla ao drama político, um refletindo
o outro.
A narrativa é lenta, o que talvez assuste alguns expectadores, mas
vale a pena persistir. Ajuda nisso a belíssima fotografia, um verdadeiro
deleite para os olhos e a forma poética e até divertida com que são mostrados
pequenos acontecimentos, como a inabilidade da mãe da família com carro (que,
como tudo no filme, logo ganha contornos simbólicos).
Sem comentários:
Enviar um comentário