O Eternauta é uma das mais famosas histórias em quadrinhos argentinas,
escrita por Hector Oesterheld e desenhada por Francisco Solano López. Segundo
Paulo Ramos (autor do livro Bienvenido, sobre quadrinhos argentinos), o
personagem é uma das figuras míticas nacionais, ao lado de Carlos Gardel, Evita
Perón e Che Guevara.
A série surgiu em 1957, quando, decidido a lançar uma revista
seriada semanal, o roteirista indagou de um dos principais desenhistas de sua
editora que tipo de quadrinhos gostaria de fazer, ao que López respondeu que
preferia fazer algum tipo de ficção científica realista.
Oesteherld escreveu em decorrência de seu fascínio pela
história de Robison Crusue, personagem que, após um naufrágio, se vê sozinho em
uma ilha deserta.
Paradoxalmente, o Eternauta quase nunca está só. Embora a
história refletisse sobre a solidão do homem preso, cercado não mais pelo mar,
mas pela morte, a verdade é que o protagonista sempre está acompanhado de
família, amigos. Ele é um herói coletivo, que não age sozinho.
A estreia aconteceu na primeira semana de 1957, no suplemento
Hora Cero Semanal. Era a terceira revista publicada pela editora criada por
Oesterhedl em sociedade com o irmão, Jorge Mora.
Semana a semana, a história foi evoluindo, mistérios
aumentando, personagens aparecendo e se mostrando tridimensionais, a exemplo
dos Mãos, usados pelos invasores para coordenar as ações dos alienígenas. E, a
cada semana, foi ganhando mais leitores.
Em 1969, a convite da revista Gente, Oesterheld reescreveu a
trama numa perspectiva mais adulta e politizada (nessa versão, os países de
Primeiro Mundo entregam a América Latina aos invadores, o que explica a invasão
a Buenos Aires) e com desenhos de Alberto Breccia. Essa versão foi mal-recebida
pelo público e pelos editores, que reclamavam sobretudo do desenho pouco
convencional de Breccia – e o roteirista foi obrigado a abreviar o roteiro,
apressando a ação para que a história terminasse.
Em 1976 foi lançado um álbum com a primeira versão, que teve
ótima aceitação, o que levou a editora Record a encomendar para o roteirista e para
o desenhista original uma continuação da história. O Eternauta II foi publicado
em capítulos mensais a partir de dezembro de 1976 e finalizado em abril de
1978. O roteirista não chegou a ver essa versão impressa, pois foi preso pela
ditadura argentina em abril de 1977. Provavelmente morreu na prisão, assim como
suas quatro filhas, duas delas grávidas.
O Eternauta se tornou um dos símbolos do país. Exemplo dessa
importância cultural foi a polêmica, em 2011, quando a campanha da candidata
Cristina Kirchner mostrou o ex-presidente Nestor Kirchner caracterizado como o
Eternauta, com a roupa isolante e o óculos de mergulho, chamando-o de
Nestornauta. A oposição questionou o uso político de um dos símbolos nacionais
e a polêmica gerou diversas matérias na imprensa argentina e até no Brasil.
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