Na década de 1970 os filmes da série Planeta dos macacos faziam um sucesso tão grande que alguém teve a ideia de fazer uma animação com o tema. Lançado em 1975, era resultado de uma associação dos estúdios DePatie-Freleng Enterprises com a 20th Century Fox Television e teve 13 episódios.
O desenho é uma verdadeira
decepção, inclusive para aqueles que são fãs dos filmes. A animação é fraca,
com muitas repetições de cena, embora isso necessariamente não seja um defeito
grave. O desenho de Jornada nas Estrelas tem animação ruim, mas roteiro bom e o
resultado final acaba sendo ótimo. Por outro lado, o filme Selvagem, da Disney,
tem ótima animação, mas roteiro chato. Resultado: foi um fiasco de bilheteria.
O grande
problema na animação dos macacos está no roteiro, com tantos furos que parece
uma peneira.
Esse roteiro é tão ruim que estou tendo infarto! |
Senão vejamos. O
DVD que tenho mostra a história aparentemente no segundo capítulo. A cronologia
dos filmes é totalmente esquecida e é como se pela primeira vez uma nave fosse
parar no planeta dos macacos. Um dos astronautas está sendo levado pelos
gorilas, outro foi salvo por uma mulher selvagem. Uma vez na cidade, o
astronauta foge. Todos, absolutamente todos os soldados macacos vão atrás dele,
mas mesmo assim ele foge com facilidade impressionante e ainda encontra tempo
para libertar todos os humanos presos pelos gorilas, pois encontra a prisão sem
guarda. Aparentemente os macacos não aprenderam nada de segurança depois de
tanto tempo...
Mas continuemos.
Em uma seqüência posterior, os dois astronautas estão vistoriando uma região de
montanhas quando vêm um grupo de militares simiescos se aproximando. A cena
mostra o humano loiro encostado numa pedra, olhando displicentemente para a
frente: “Parece que os macacos estão nos procurado”. E outro: “Se nos
virem aqui, estamos ferrado!”. Qualquer um sairia correndo para se esconder,
mas eles ficam lá parados, olhando o tempo. “É, parece que eles nos viram”. “Poxa
vida, isso é horrível”, dizem eles, sem sair do lugar.
Proatividade parece ser
uma palavra desconhecida para esses dois homens. Fiquei imaginando a
continuação do diálogo: “Eles estão a um quilômetro!” “Nossa, logo eles não vão
nos alcançar se não corrermos”, “Agora eles já estão a cem metros!”, “Vamos
fazer um lanche?”.
Vamos continuar procurando a lógica dessa história! |
Mas os nossos
heróis são salvos por uma montanha que se eleva na frente deles, escondendo-os,
um artifício que os bons roteiristas chamam de Deus ex machina. Essa expressão
significa algo exterior à história, que surge para salvar a situação. É chamada
assim porque os dramaturgos gregos ruins constumavam baixar um deus no final da
peça para costurar as pontas soltas ou para explicar situações não muito
lógicas. Um Deus ex machina é quando o roteirista arranja uma saída totalmente
desconhecida do leitor para salvar os heróis ou para resolver uma situação. É
erro gravíssimo.
Depois dessa
tremenda forçada de barra, os heróis ainda encontram uma porta secreta, por
onde chegam ao mundo dos humanos subterrâneos. Nisso eles descobrem que estão
na terra. O desenho foi feito no final da década de 1970, uma época em que todo
mundo já sabia disso, mas mesmo assim o desenho faz um suspense desnecessário
sobre isso.
Os expectadores nunca vão desconfiar que estamos na Terra. Vamos tomar um café? |
No mundo dos
subterrâneos eles encontram a terceira astronauta e fogem com ela num carrinho
que corre por um trilho. Os subterrâneos têm duas formas de defesa: uma são
ilusões, outra são raios emitidos pelos olhos. Então eles primeiro fazem
aparecer uma parede de mentira e os heróis acham que vão bater, mas passam
direto por ela. Depois acham que vão cair num buraco, mas, mais uma vez
descobrem que é uma ilusão. Então eles se deparam com uma parede de fogo.
Qualquer pessoa que tivesse passado pelas experiências anteriores aprenderia o
bastante para saber que a parede é também uma ilusão, mas os nossos astronautas
são burros como uma porta e morrem de medo do fogo. Quando passam por ele e
descobrem que estão vivos, comentam entre si: “Quem diria, é uma ilusão!”. Será
que eles aceitam pessoa com QI 0,1 na NASA?
O teste de QI mostra que os astronautas da NASA são mais burros que nós! |
Enquanto isso,
os subterrâneos atiram neles com seus raios... e não acertam nada, nem os
trilhos, nem os humanos, nem o carrinho. São quase cinco minutos de tentativa e
nada. Uma impossibilidade matemática! Isso nos faz pensar que os subterrâneos
aprenderam a atirar com um cego paralítico e epiléptico. Não acertar em
absolutamente nada durante cinco minutos de tiroteio é mais difícil que ganhar
na loteria, mas eles conseguem e os astronautas saem de lá sem um único
arranhão.
O pior de tudo é
que o episódio foi escrito por dois roteiristas. Será que nenhum deles percebeu
os buracos no roteiro?
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