domingo, abril 28, 2019

Charlier, o mestre dos quadrinhos belgas



Um dos meus roteiristas prediletos é o belga Jean-Michel Charlier.
Charlier foi uma das mentes brilhantes que projetaram a HQ franco-belga pela Europa e construiram um gênero que une qualidade a popularidade, pelo menos no velho mundo.
A primeira vez que tive contato com seu trabalho foi no número 21 da série Graphic Novel, da editora Abril, que publicou a primeira história de Blueberry. Quando li a biografia e vi sua foto com o sorriso bonachão, os óculos pendurados e um charuto na boca, disse para mim mesmo: esse é o cara!

Charlier, além de ter um texto genial, era eclético. Escrevia em qualquer gênero, para qualquer desenhista e qualquer faixa etária. Para os desenhos de Uderzo (ilustrador de Asterix) criou uma série de aventuras sobre dois aviadores, Tanguy e Laverdure. 
Para o traço clássico de Hubinon criou uma série infantil, Barba Negra. Além disso, escreveu programas de televisão e reportagens especiais.

Mas sua maior criação foi Blueberry, o cowboy cara de pau, inveterado jogador de pocker. 
O sucesso do personagem não foi só por sua causa. Blueberry juntou o melhor roteirista da Europa com o melhor desenhista do velho continente: Moebius, que começa tímido nos primeiros capítulos e depois solta todo o seu traço detalhista, mais apreciado nas cenas de saloons, nos quais se podia contar 20, 30 pessoas. Cada vinheta de Blueberry é um verdadeiro quadro, a ser apreciado com gosto e atenção.

E Blueberry era um personagem perfeito para os novos tempos: não era um mocinho que sempre fazia o bem, mas costumava se importar com os índios, característica que fez dele um diferencial nos quadrinhos de faroeste. Além disso, bebia e parecia ter tantos defeitos quanto qualidades (anos depois, essa tendência de cowboy humano seria muito bem aproveitada em Ken Parker).
Levei muitos anos vasculhando sebos, encontrando aqui e ali edições portuguesas de Tangui e Laverdure e do Barba Ruiva. E a cada álbum que lia eu me encantava mais. Gostava especialmente do fato de que Charlier não parecia estar querendo fazer uma obra-prima, mas simplesmente contar uma boa história. Roteirista que se levam a sério demais,  que se acham gênios, costumam ser maçantes.

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