Um dos meus roteiristas prediletos é o belga Jean-Michel Charlier.
Charlier foi uma das mentes
brilhantes que projetaram a HQ franco-belga pela Europa e construiram um gênero
que une qualidade a popularidade, pelo menos no velho mundo.
A primeira vez que tive contato
com seu trabalho foi no número 21 da série Graphic Novel, da editora Abril, que
publicou a primeira história de Blueberry. Quando li a biografia e vi sua foto
com o sorriso bonachão, os óculos pendurados e um charuto na boca, disse para
mim mesmo: esse é o cara!
Charlier, além de ter um texto
genial, era eclético. Escrevia em qualquer gênero, para qualquer desenhista e
qualquer faixa etária. Para os desenhos de Uderzo (ilustrador de Asterix) criou
uma série de aventuras sobre dois aviadores, Tanguy e Laverdure.
Para o traço clássico
de Hubinon criou uma série infantil, Barba Negra. Além disso, escreveu
programas de televisão e reportagens especiais.
Mas sua maior criação foi
Blueberry, o cowboy cara de pau, inveterado jogador de pocker.
O sucesso do
personagem não foi só por sua causa. Blueberry juntou o melhor roteirista da
Europa com o melhor desenhista do velho continente: Moebius, que começa tímido
nos primeiros capítulos e depois solta todo o seu traço detalhista, mais
apreciado nas cenas de saloons, nos quais se podia contar 20, 30 pessoas. Cada
vinheta de Blueberry é um verdadeiro quadro, a ser apreciado com gosto e
atenção.
E Blueberry era um personagem
perfeito para os novos tempos: não era um mocinho que sempre fazia o bem, mas
costumava se importar com os índios, característica que fez dele um
diferencial nos quadrinhos de faroeste. Além disso, bebia e parecia ter tantos
defeitos quanto qualidades (anos depois, essa tendência de cowboy humano seria
muito bem aproveitada em Ken Parker).
Levei muitos anos vasculhando sebos,
encontrando aqui e ali edições portuguesas de Tangui e Laverdure e do Barba
Ruiva. E a cada álbum que lia eu me encantava mais. Gostava especialmente do
fato de que Charlier não parecia estar querendo fazer uma obra-prima, mas
simplesmente contar uma boa história. Roteirista que se levam a sério
demais, que se acham gênios, costumam
ser maçantes.
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