Aldebaran é talvez o melhor exemplo de HQ em
que a trama é toda desenvolvida a partir da ambientação. A série, criada pelo
brasileiro Luiz Eduardo Oliveira, o Leo, é campeã de vendas na Europa e
considerada uma das melhores séries de fantasia e ficção de todos os tempos.
Leo nasceu no Rio de Janeiroe, em 1944. Em 1971
fugiu do Brasil para escapar da repressão do regime militar. Foi para o Chile,
Argentina até voltar para o Brasil, onde trabalhou com publicidade. Sua
primeira HQ foi uma história de ficção-científica publicada na revista O Bicho.
No final da década de 1970 conhece a revista Metal Hurlant, que teria forte
influência sobre seu trabalho, e resolve tentar a sorte na França. Depois de
anos publicando pequenas histórias em revistas como a L'Echo des savanes e
Pilote, em 1991, a convite do escritor Rodolphe, começa a desenhar a série
Trent, de grande sucesso.
As boas vendas lhe permitem lançar sua própria
série. É quando surge Aldebaran.
A história se passa em um planeta marítimo
colonizado por humanos. Mas, depois da primeira expedição, a colônica perde o
contato com a Terra. Assim, Aldebaran fica totalmente isolada e passa a ser
governada por uma ditadura militar-religiosa, que, entre outras coisas, força
detentas a engravidarem para ajudar a povoar a colônia. Uma nova lei pretende
obrigar todas as mulheres a engravidarem a partir dos 17 anos. A música é
proibida e músicos são obrigados a se esconderem.
A história começa em uma pequena vila de
pescadores onde começam a ocorrer fenômenos estranhos. Os peixes desaparecem.
Um Nestor (uma espécie de baleia com braços) encalha na praia. Pescadores encontram
na superfície um peixe das profundezas. Finalmente, o mar se transforma em uma
espécie de gelatina e destrói uma vila de pescadores. Um homem misterioso
parece saber o que está acontecendo e, ao se envolverem com ele, dois
sobrevintes passam a ser perseguidos pelos militares.
Além da ótima trama e dos desenhos para lá de
competentes, Aldebaran chama atenção especialmente pela forma como Leo cria
toda uma ambientação alienígena e como a trama gira em torno dessa ambientação.
A criatividade do quadrinista para criar visualmente e conceitualmente a flora
e a fauna de Aldebaran, por exemplo, é impressionante. Um exemplo: o polvo da
areia é capaz de mimetizar a forma de animais para atraí-los e capturá-los com
seus tentáculos espalhados sob a areia. Ou as caravelas, animais flutuantes que
produzem gás hélio usado pelos humanos em dirigíveis. Aliás, a própria
Matrisse, o animal misterioso que parece estar por trás de todos os fenômenos
estranhos, é um exemplo da complexidade dessa composição de cenário.
Junte a isso personagens cativantes,
tridimensionais, como o trapaceiro Pad, e temos uma HQ obrigatória para todo fã
de ficção científica.
A série, composta de cinco volumes, fez tanto
sucesso que ganhou duas sequências, Betelgeuse e
Antares. No Brasil a série foi publicada pela Panini até a segunda parte,
Betelgeuse. Antares continua inédita entre nós.
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