Atenção: contém spoiller
O terceiro episódio da
oitava temporada de Guerra dos tronos foi, provavelmente, o mais esperado de
toda a série ao mostrar a batalha entre o Rei da noite e os vivos, conflito que
vinha sendo construído desde o primeiro episódio.
Vendido como a maior
batalha campal já exibida na TV, o episódio agradou alguns e desagradou muitos.
Quem tem razão?
De fato, a batalha é
grandiosa, com muitos figurantes e muitos efeitos especiais. O episódio é muito
bem dirigido, com boas cenas de luta e um bom timming narrativo. A sequência
anterior aos primeiros confrontos é habilmente construída para promover o máximo
de suspense e tensão.
O grande problema é o
roteiro.
A estratégia montada por
Jon Snow é tão primariamente equivocada que compromete a verossimilhança do
episódio.
Assim que os caminhantes brancos
se aproximam, ele envia sua cavalaria, os Dothraki, que são totalmente
dizimados (e passam a fazer parte do exército inimigo). Em termos de imagem,
foi interessante, pois inicialmente vemos uma verdadeira massa de luzes (as
espadas dos guerreiros) se aproximando dos mortos e depois as luzes vão se
apagando à medida em que eles vão sendo tomados pela multidão e morrendo. O impacto
visual é grande e deixa no expectador a impressão de que tudo está perdido, mas
em termos de estratégia militar não faz sentido. Enviar primeiro a cavalaria sozinha e perde-la nos primeiros minutos de
uma batalha é erro crasso (aliás, a origem do termo se refere a um comandante
romano que comenteu um erro grave em uma batalha).
Além disso, as catapultas
são colocadas antes das tricheiras, que depois seriam incendiadas. Aliás, as
tricheiras foram colocadas muito próximas das muralhas. Como resultado, as
catapultas praticamente não são usadas, ficando inúteis.
Em uma batalha como
aquela, com um inimigo infinitamente superior, o correto seria colocar as
trincheiras mais distantes, aproveitar que o inimigo ficaria parado diante
delas e exterminá-los ao máximo com os dragões, catapultas e flechas. Além disso,
como vimos, os caminhantes só conseguem ultrapassar as trincheiras criando
pontes com seus próprios corpos, deixando passar alguns.
Esse seria o momento de atacá-los,
quando os que entravam eram poucos, ao invés de enfrentá-los no seu número máximo,
como foi a estratégia de Jon Snow.
Aí chegamos à Arya. O fato
dela matar o Rei da noite e resolver a situação em si não é algo negativo, uma
vez que há vários ganchos nesse sentido, pistas de que seria isso que
aconteceria. Mas a forma como aconteceu, sim.
Arya surge do nada, quase
como um deus ex machina, para resolver a situação. O expectador se pergunta:
como ela chegou ali? Todos estavam tentando e ninguém conseguia. Arya nem mesmo
é mostrada tentando. Quando a vemos já é no clímax da cena. Como a personagem
tem a capacidade de se disfarçar, isso poderia ser usado como explicação para
essa aparição repentina, mas os roteiristas preferiram a supresa pura e
simples, ao invés de justificar, dar verossimilhança ao que está acontecendo.
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