segunda-feira, junho 17, 2019

Apocalípticos e Integrados

                O surgimento dos Meios de Comunicação de Massa e a percepção da grande importância que tal fato teria sobre a humanidade fez com que os pesquisadores que se debruçaram sobre os mesmos tivessem dois tipos de postura. De um lado, aqueles que abraçavam entusiasticamente as novas tecnologias. Do outro, os que viam no desenvolvimento da mídia (os Meios de Comunicação de Massa – MCM) o fim da civilização, do pensamento crítico e das liberdades individuais.
                Umberto Eco chamou os primeiros de integrados e os últimos de apocalípticos no seu livro Apocalípticos e Integrados, hoje um clássico do estudo da comunicação.
                Os apocalípticos, adeptos de uma visão aristocrática da cultura, vêm como uma monstruosidade a criação de uma cultura partilhada por todos e produzida de modo que a todos se adapte. O surgimento da mesma Ao homem de culto só resta dar o seu testemunho e esperar o fim dos tempos.
                Os integrados, ao contrário, argumentam que as novas tecnologias estão permitindo um alargamento cultural, uma democratização da cultura. Por traz desses dois conceitos criados por Eco esconde-se uma crítica veladas às duas principais correntes teóricas do estudo da comunicação no início do século XX.
                Os integrados seriam os funcionalistas, na sua maioria norte-americanos e liderados por pesquisadores como Laswell e Lazzarsfeld.
                Os apocalípticos seriam os membros da escola de Frankfurt, liderados por Adorno.
                A diferença entre as duas escolas explica-se, em parte, pelo contexto histórico do surgimento das mesmas.
                Surgido nos EUA, país que se orgulha de sua centenária democracia, e financiado pelas agências de propaganda, o funcionalismo não tinham razões para temer o desenvolvimento dos Meios de Comunicação de Massa.
                Laswell chega a afirmar que propaganda rima com democracia, pois os ditadores não precisam convencer a massa a segui-los. Para eles, basta o uso da força.
                Ambiente absolutamente oposto iria dar origem à Escola de Frankfurt. Esse grupo de estudos sociológicos, surgido na Alemanha na década de 30, era formado, essencialmente, por socialistas judeus. Gente como Bretch e Heich faziam parte da escola de Frankfurt.
                Os frankfurtianos viam, aterrorizados, a ascensão do nazismo e a utilização que Hitler fazia dos Meios de Comunicação de Massa (MCM).
                Hitler chegara a escrever um livro afirmando que a derrota da Alemanha na Primeira Guerra se devia, essencialmente, à falta de uma boa propaganda de guerra.
                O nazismo usava muito bem o cinema e o rádio para conseguir a adesão das massas e seus objetivos não eram nada democráticos.
                Quando os alemães invadiram a França, os frankfurtianos que haviam se refugiado lá tiveram de fugir. Na fronteira da França com a Espanha, Walter Benjamim, achando que cairá nas garras da Gestapo, suicida-se.
                O grupo vai para os EUA e, embora tenham trabalhado com os funcionalistas no início, a experiência com o nazismo irá afasta-los radicalmente da posição integrada.
                Para filósofos como Adorno, a Indústria Cultural jamais poderá produzir arte, pois a arte não é feita para ser vendida. Filmes como Cidadão Kane seriam apenas um “chamariz” para nos fazer acreditar que é possível haver arte autêntica dentro da Indústria Cultural.
                Além disso, a mídia estará massificando a humanidade. O processo de reprodutibilidade técnica, que tornava possível a reprodução da cultura em milhares, às vezes milhões de produtos absolutamente iguais (é o caso da fabricação de CDs, por exemplo) se refletia nos consumidores, tornando-os tão uniformizados quantos os produtos por eles consumidos.

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