Gian Danton e Jefferson Nunes
Juiz Dreed é filho do punk rock, do “No future” causado pela
crise do petróleo, e de um certo cinismo desesperado que germinou no lodo pós
sonho dos anos 70, antes de se tornar apenas uma forma de lucro nas mãos de
corporações nos anos 90.
Criado no Reino Unido por John Wagner (roteiros)
e Carlos Ezquerra (desenhos), apareceu pela primeira vez no
conturbado ano 1977, na revista "2000 AD", na época a Bíblia
quadrinhistica das gangues juvenis e da contracultura britânica. Foi nessa
revista que a a geração que mudaria a história das HQs ocidentais na próxima
década (Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison etc...) foi gestada.
Dredd é um vigilante num mundo pós apocalíptico, cerca
de 120 anos no futuro. Nessa realidade
ultraviolenta, o juiz acumula os cargos de polícia, promotor, juiz, júri e
executor (quando necessário). Ele trabalha ao lado de vários outros juízes, que
mantêm a ordem na megalópole Mega City One, uma junção meio Frankstein do que
restou das grandes metrópoles americanas.
Na verdade, o personagem era uma inteligente sátira a
repressão policial, que andava em alta naqueles tempos e aos exageros beirando o ridículo, da Justiça. Suas próprias
funções são uma ironia punk, já que, na realidade, a atividade do policial e do
juiz são incompatíveis.
As histórias do personagem tinham um tom sarcástico e
crítico. Em uma das histórias, por exemplo, o viajante do tempo, de H.G. Wells,
vai parar na cidade de Dreed e, após ser roubado, acaba sendo preso por Dreed
porque seu corpo estava cheio de resíduos de café – uma substância considerada
droga no futuro.
O personagem acabou se tornando o mais popular da publicação
e do Reino Unido, tendo dado origem a dois filmes, em 1995, o fraco “ Judge Dredd”, interpretado por Sylvester Stallone e o
ótimo e subestimado “Dredd “,lançado em 2012, com Karl Urban como o
personagem titulo, dois games e até letra de música, na já clássica “I Am The
Law” da banda de trash metal americana Anthrax, “EU SOU A LEI,e você não irá
foder por aí de novo - EU SOU A LEI, Eu julgo os ricos, eu julgo os pobres - EU
SOU A LEI, Cometa um crime e eu trancarei a porta - EU SOU A LEI, Porque aqui
em Mega-city,EU SOU A LEI”.
Mas com o tempo, e o troca-troca de autores, o personagem
foi perdendo a sua veia irônica se tornando cada vez mais um Anti Herói
genérico.
Mas, com o otimismo do novo milênio indo para o saco já na
segunda década do século, o aumento do fascismo e a moda de Juízes brincando de
policia, júri e executores, quem sabe o personagem não volte a suas origens
punk rock?
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