segunda-feira, junho 24, 2019

Juiz Dreed: eu sou a lei



Gian Danton e Jefferson Nunes

Juiz Dreed é filho do punk rock, do “No future” causado pela crise do petróleo, e de um certo cinismo desesperado que germinou no lodo pós sonho dos anos 70, antes de se tornar apenas uma forma de lucro nas mãos de corporações nos anos 90.
 Criado no Reino Unido por John Wagner (roteiros)  e Carlos Ezquerra (desenhos), apareceu pela primeira vez no conturbado ano 1977, na revista "2000 AD", na época a Bíblia quadrinhistica das gangues juvenis e da contracultura britânica. Foi nessa revista que a a geração que mudaria a história das HQs ocidentais na próxima década (Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison etc...) foi gestada.
Dredd é um vigilante num mundo pós apocalíptico, cerca de  120 anos no futuro. Nessa realidade ultraviolenta, o juiz acumula os cargos de polícia, promotor, juiz, júri e executor (quando necessário). Ele trabalha ao lado de vários outros juízes, que mantêm a ordem na megalópole Mega City One, uma junção meio Frankstein do que restou das grandes metrópoles americanas.
Na verdade, o personagem era uma inteligente sátira a repressão policial, que andava em alta naqueles tempos e aos exageros  beirando o ridículo, da Justiça. Suas próprias funções são uma ironia punk, já que, na realidade, a atividade do policial e do juiz são incompatíveis.
As histórias do personagem tinham um tom sarcástico e crítico. Em uma das histórias, por exemplo, o viajante do tempo, de H.G. Wells, vai parar na cidade de Dreed e, após ser roubado, acaba sendo preso por Dreed porque seu corpo estava cheio de resíduos de café – uma substância considerada droga no futuro.   
O personagem acabou se tornando o mais popular da publicação e do Reino Unido, tendo dado origem a dois filmes,  em 1995, o fraco “ Judge Dredd”,  interpretado por Sylvester Stallone e o ótimo e subestimado “Dredd “,lançado em 2012, com Karl Urban como o personagem titulo, dois games e até letra de música, na já clássica “I Am The Law” da banda de trash metal americana Anthrax, “EU SOU A LEI,e você não irá foder por aí de novo - EU SOU A LEI, Eu julgo os ricos, eu julgo os pobres - EU SOU A LEI, Cometa um crime e eu trancarei a porta - EU SOU A LEI, Porque aqui em Mega-city,EU SOU A LEI”.
Mas com o tempo, e o troca-troca de autores, o personagem foi perdendo a sua veia irônica se tornando cada vez mais um Anti Herói genérico.
Mas, com o otimismo do novo milênio indo para o saco já na segunda década do século, o aumento do fascismo e a moda de Juízes brincando de policia, júri e executores, quem sabe o personagem não volte a suas origens punk rock?

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