Um aspecto importante na construção do roteiro é a ambientação. É necessário imaginar onde o
personagem vive, com quem ele se
relaciona, como ganha a vida, etc...A ambientação vai acabar, inclusive,
influenciando no modo de pensar e agir dos personagens. Pessoas que vivem num ambiente árido acabarão
tendo um comportamento árido (os tuaregs que o digam). Isso é muito claro, por exemplo, na série de álbuns Aldebaran: os personagens vivem num mundo quase completamente dominado pela água. Quando vão para um mundo desértico, tudo muda, inclusive os aspectos culturais.
Uma de minhas
histórias chamada Vácuo mostra um
tripulante de uma estação espacial que se revolta e acaba explodindo todo o
local. A claustrofobia provocada pelos
eternos corredores, pelos ambientes fechados, fizeram com que ele
"pirasse". Essa mesma ambientação poderia ter o efeito oposto em
outro indivíduo. Sentido-se confortável e seguro dentro de um ambiente fechado,
ele poderia se sentir um agorafóbico.
Um exemplo mais
famoso: o Batman de Cavaleiro das Trevas
é violento porque a Gothan City criada por Frank Miller é violenta.
Também é importante
saber o máximo possível sobre o local em que se vai passar a história. Antes de
começar a escrever o tenente Blueberry,
Charlier viajou para os EUA e visitou toda a região em que se passaria a HQ. Se
você for escrever uma história sobre o Egito e não
tiver dinheiro para a passagem, a melhor alternativa é entocar-se na biblioteca
e ler tudo o possível sobre os hábitos, costumes e acidentes geográficos da
região. Alan Moore conta que, antes de começar a escrever Monstro do Pântano, leu tanto sobre a Flórida que acabou descobrindo
algumas coisas curiosas: "Eu sei, por exemplo, que os crocodilos comem
pedras pensando que são tartarugas e depois não conseguem digeri-las e essa
deve ser a razão pela qual eles têm um temperamento tão irascível", diz.
Criar uma história
que se passe no futuro, num planeta longínquo, ou em um planeta atualmente
desconhecido pode livrar você da visita à biblioteca, mas certamente não vai
facilitar as coisas para sua imaginação. É necessário, nesses casos, imaginar
todos os aspectos dessa sociedade: quem governa, se é que há governo, como as
pessoas vivem, quais são os seus costumes, como elas se alimentam...
Um exemplo
fantástico de criação de ambiente é o álbum A Fonte de Cyann, de Bourgeon e Lacroix. Os autores criaram não só
uma história para o planeta em que se passa a HQ como, ainda, se preocuparam
com detalhes mínimos. Tipo: o lugar da letra O no nome da pessoa determina a classe social.
Em Cian, quando
pessoas importantes morrem, seus corpos são envoltos em barro e jogados no mar.
Quanto mais pessoas se unem para impedir a parte final do ato funerário, mais
querido era o defunto. Detalhe: a língua falada pelos personagens, embora muito
semelhante ao francês, tem suas próprias regras. Para desespero dos tradutores!
Portanto, se você
quiser escrever boas histórias de Ficção científica, ou de fantasia, comece a
ler desde já livros de antropologia...
Sem comentários:
Enviar um comentário