Gian Danton e Alexandre Magno
Billy Wilder é um dos mais importantes diretores do cinema
mundial. Judeu austríaco, mudou-se para a América fugindo do nazismo e fez
obras-primas, como Crepúsculo dos Deuses. Conhecido por seu ecletismo, ele dirigia
tanto ótimas comédias (a melhor delas Quanto mais quente, melhor) e ótimos
dramas (como o filme sobre alcoolismo Farrapo Humano).
Em artigo anterior, destacamos alguns pontos que fazem de
Wilder um diretor tão especial. Neste, apresentamos outras características:
A cena final de Quanto mais quente melhor. |
Bons finais sempre: Há muitos cineastas cujos filmes são obras primas. Filmes
muito bem escritos, com composições visuais excelentes e interpretações
impecáveis. Mas quando chegam ao final, acabam de maneira estranha, que não
condiz com a qualidade do restante, enfim, finais passáveis. Com Billy Wilder
chega a ser impressionante a coerência de sua carreira no que se trata de
tramas bem construídas, e bem encerradas.
Talvez o caso mais emblemático deste quadro seja o filme Testemunha de Acusação (1958). Neste, o
final é tão surpreendente e importante para a trama que quem assiste ao filme
inteiro com exceção dos minutos finais pode ficar com a impressão de que se
trata de um filme menor. Nos créditos, há um pedido para que os espectadores
não comentem a respeito do final com amigos. Wilder sabia que a força do filme
estava no final.
Também temos o que possivelmente é o melhor final de um
filme de todos os tempos. Na ultima cena de Quanto
Mais Quente Melhor (1959) vemos aquele que é considerado o mellhor diálogo
final de um filme em todos os tempos. Jack Lemmon,
disfarçado de mulher e usando o nome de Daphne, tenta convencer o milionário
Osgood que não pode se casar com ele:
Daphne: É, Osgood. Não posso me casar no vestido da
sua mãe. É que – eu e ela, nós não temos o mesmo tamanho.
Osgood: Nós podemos alterá-lo.
Daphne: Oh não faça isso! Osgood, Eu vou falar de uma vez. Não podemos nos casar de forma alguma!
Osgood: Por que não?
Daphne: Bem, em primeiro lugar, eu não sou loira de verdade.
Osgood: Não importa.
Daphne: Eu fumo! Eu fumo o tempo todo!
Osgood: Eu não ligo.
Daphne: Bem, eu tenho um péssimo passado. Faz três anos que eu moro com um saxofonista.
Osgood: Eu te perdoo.
Daphne: Nunca poderemos ter filhos!
Osgood: Podemos adotar alguns.
Daphne: Mas você não entende, Osgood! Eu sou um homem!
Osgood: Bem, ninguém é perfeito!
Osgood: Nós podemos alterá-lo.
Daphne: Oh não faça isso! Osgood, Eu vou falar de uma vez. Não podemos nos casar de forma alguma!
Osgood: Por que não?
Daphne: Bem, em primeiro lugar, eu não sou loira de verdade.
Osgood: Não importa.
Daphne: Eu fumo! Eu fumo o tempo todo!
Osgood: Eu não ligo.
Daphne: Bem, eu tenho um péssimo passado. Faz três anos que eu moro com um saxofonista.
Osgood: Eu te perdoo.
Daphne: Nunca poderemos ter filhos!
Osgood: Podemos adotar alguns.
Daphne: Mas você não entende, Osgood! Eu sou um homem!
Osgood: Bem, ninguém é perfeito!
Esse final, escrito em parceria com I.
A. L. Diamond, grande parceiro do diretor, ficou tão famos que Wilder
mandou escrever em seu túmulo: “Eu sou um escritor... mas ninguém é perfeito”.
Isso tudo só ocorre porque Wilder, seguindo o princípio
consagrado por alguns movimentos cinematográficos que estabelece condições para
que um diretor seja também um autor, também roteiriza todos os seus filmes. Esse
fato que lhe permitia muito mais liberdade criativa. Esse fator, somado à
liberdade que os estúdios lhe davam (poucos diretores desfrutavam deste luxo à
época) contribuía para que ele quase sempre optasse pelo melhor final no seu
ponto de vista.
A atuação de Marilin em Quanto mais quente melhor é memorável. |
Direção de atores
– Wilder não era um mestre só ao manejar a câmera. Era também um especialista
em tirar de seus atores suas melhores interpretações. O exemplo mais clássico
talvez seja Marilyn Monroe em Quanto mais quente melhor. Conta-se que na época
ela já estava com problemas psicológicos tão graves que não conseguia decorar
nem mesmo uma frase simples, como “I´m sugar!”. Ainda assim, sua atuação no
filme é perfeita. A cena em que ela tenta conquistar Tony Curtis, que, por sua
vez, tenta se fazer de tímido, é uma das melhores do cinema com atuação
brilhante dos dois atores. Aliás, essa mesma cena é um exemplo perfeito da
maneira como o diretor manejava o diálogo de modo a permitir várias
interpretações. Nela, quase toda fala tem duplo sentido.
Inferno n. 17: filme de guerra de Wilder. |
Eclético - Billy Wilder costumava dizer: “Ninguém gosta
de comer todos os dias a mesma coisa” para justificar a variedade de seus
filmes. Ele fez um dos melhores dramas jornalísticos de todos os tempos (A
Montanha dos sete abutres) e a melhor comédia da história do cinema (Quanto
mais quente, melhor). E passeou pelos gêneros noir (Pacto de sangue), comédia
romântica (A incrível Suzana, Sabrina), filme de guerra (Sete covas do Egito e
Inferno n. 17), comédia de costumes (Se
meu apartamento falasse, O Pecado mora ao lado), metalinguístico (Crepúsculo
dos deuses) e até policial (A vida íntima de Sherlock Holmes). Dos gêneros mais
conhecidos de Hollywood, os únicos que ele não abordou foram a ficção
científica e o faroeste.
Kirk Dougla interpreta um jornalista sem escrúpulos em A montanha dos sete abutres. |
Roteiros – Já foi
dito sobre os finais perfeitos de seus filmes, mas quem conhece o trabalho
Billy Wilder sabe que tudo em seus filmes era feito em torno do roteiro. A
textura da trama era perfeita, sem pontas soltas ou deus ex-machinas (situações
ou soluções que não se encaixam no contexto). Até mesmo quando Wilder parece
falhar no roteiro, isso na verdade faz parte da trama, como em Testemunha de
acusação, quando uma personagem aparece do nada apresentando provas fundamentais
para o julgamento. Além disso, ele manejava o diálogo como poucos, revelando
detalhes sobre os personagens a cada fala. Exemplo disso é quando Kirk Douglas,
em A montanha dos sete abutres diz que irá conseguir uma grande notícia, mesmo
que para isso precise morder um cachorro, mostrando, nessa simples fala, a
falta de ética do personagem.
Todos esses fatores e muitos outros fazem com que Billy
Wilder seja obrigatório para qualquer um que goste de cinema.
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