Começar com histórias
curtas pode ser a melhor opção para novos escritores e roteiristas
Há
algum tempo chegou às minhas mãos uma revista publicada por um coletivo de
quadrinistas. Quando faço resenhas procuro sempre destacar algo positivo na
obra. Posso até apontar, por exemplo, problemas de anatomia nos desenhos, mas
vou destacar a originalidade da história, se for esse o caso. Mas na revista em
questão não havia absolutamente nada a se elogiar. A maioria das histórias era
uma cópia descarada de outras (uma delas simplesmente havia mixado cenas de
Walking Dead, Eu sou a Lenda e As panteras) e muitas começavam e terminavam no
meio.
Assim,
ao invés de escrever uma resenha, preferi conversar com o grupo, dando
sugestões. Achei que seria mais justo. Mas ao conversar com eles, ouvi a
desculpa: “É impossível escrever uma boa história em apenas 12 páginas!”.
Alguns
dos maiores clássicos dos quadrinhos foram escritos em menos de 12 páginas. O
genial Spirit, de Will Eisner, era em apenas seis páginas. Miracleman, de Alan
Moore, a história que iria revolucionar o conceito de super-heróis, tinha
capítulos fechados de oito páginas. Uma das melhores revistas já lançadas no
Brasil foi a Kripta, com material da Warren, e a maioria das histórias tinha
menos de 10 páginas.
Aliás,
no começo da carreira, quando colaborava com a 2000 AD, Alan Moore tinha
dificuldade de conseguir uma série longa exatamente porque suas histórias
curtas eram tão boas que os editores não queriam perder esse bom escritor de
HQs curtas colocando-o para escrever séries (Essas histórias foram publicadas no Brasil pela Devir com o título de Choques Futuristas). Posteriormente, quando conseguiu
fazer histórias longas, Moore fez alguns dos melhores quadrinhos de todos os
tempos.
Eu
costumo dizer que todo roteirista iniciante deveria começar escrevendo pequenos
contos: de cinco a seis páginas.
Primeiro
porque é muito mais fácil de publicar uma história de cinco páginas em uma
antologia do que uma enorme graphic novel de 500 páginas.
Segundo
porque escrever histórias curtas é um enorme aprendizado. Aprende-se a
sintetizar, a valorizar cada quadro, a escrever algo que faça sentido em poucas
páginas, a evitar diálogos desnecessários ou redundantes. Posteriormente,
quando puder escrever uma série em capítulos, por exemplo, o roteirista será
capaz de fazer com que cada capítulo faça sentido sozinho, de modo que possa
ser lido e entendido, mas que o leitor se interesse por ler o restante.
Ou
seja: aprender a ser sintético é essencial para qualquer roteirista.
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