sábado, julho 13, 2019

Monteiro Lobato: o escândalo do petróleo




            Quando voltou dos EUA, onde morou na década de 1920, Lobato trouxe o sonho de tornar o Brasil um país tão próspero e rico quanto os EUA. Ele percebera que o petróleo era a base do desenvolvimento daquele país e a solução para desenvolver o Brasil era o petróleo. Mas não ia ser fácil dar petróleo ao Brasil. Para começo, não havia qualquer apoio governamental. Pelo contrário. Dizia-se e redizia-se que no Brasil não havia petróleo. Se houvesse algum, os americanos, espertos que eram, já o teriam descoberto, argumentavam. Lobato pensava diferente. Se quase todos os países com os quais temos fronteira retiravam petróleo, porque o Brasil, e só o Brasil teria sido boicotado pela natureza?
            Havia, inclusive, evidências. No início do século um geólogo dinamarquês descia um rio do Mato Grosso quando observou na água um óleo que alcançava a água através de um barranco. Foi acompanhando o rastro e encontrou um olheiro que soltava óleo em grande quantidade: até 600 litros por dia! Era petróleo. E dos melhores. O dinamarquês recolheu o óleo, analisou e correu para o Rio de Janeiro para pedir licença para exploração. Estranhamente, o governo se recusou a dar a licença.
            Em 1918 um sábio alemão chamado Bach foi parar em Alagoas. Achou que a região poderia ter petróleo e fez estudos. “Aqui há petróleo para abastecer o mundo”, concluiu. E formou uma empresa para explorar a mina.
            Súbito morreu. Quando atravessava uma lagoa com um canoeiro que não era o habitual, a canoa virou. Lá se foi o sábio para o fundo, enquanto canoeiro nadava tranquilamente para a margem...
            Mesmo com essas estranhices, Lobato inventou de formar uma empresa exploradora de petróleo. Com o dinheiro do petróleo entraria de sola no projeto de fabricar aço por um novo processo mais econômico e ecológico.
            Lobato começou a escrever em jornais, divulgando o petróleo brasileiro, e os acionistas começaram a aparecer.
            Certa vez foi no escritório um homem visivelmente pobre. O que não era de se admirar, já que a maioria dos acionistas era composta de gente humilde, que tinha o sonho de enriquecer. O susto veio quando o homem depositou na mesa uma grande quantia em dinheiro. Lobato piscou trinta vezes.
            - Mas, mas... gaguejou Lobato. Todo esse dinheiro...
            - São minhas economias. Guardei durante anos.
            O escritor, passado o susto, caiu um si. Onde já se viu, investir as economias de uma vida, todo o dinheiro, numa empreitada arriscada que podia dar em nada? Lobato disse isso ao futuro acionista.
            - Sei, sei de tudo. - respondeu ele. Estou investindo porque acredito que assim posso ajudar o Brasil.
            Lobato abaixou-se para pegar uma caneta que, de fato não tinha caído e, assim escondido, tratou de enxugar umas aguinhas que insistiam em cair-lhe dos olhos. 
            Começaram as escavações e com elas os problemas. Surgiram mais e mais dificuldades jurídicas, a maior parte delas provocada pelo órgão do governo que deveria incentivar a descoberta de petróleo. Um amigo de Lobato, que também estava engajado na campanha pelo petróleo, foi misteriosamente assassinado.

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