O
primeiro livro de Lobato para crianças foi lançado em 1921 e chamava-se
Narizinho Arrebitado. Teve a tiragem monstra de 50 mil exemplares. E vendeu
tudo. Antes disso praticamente não havia livros para crianças. Quando ele mesmo
era pequeno, as leituras se restringiam a dois álbuns coloridos, Menino Verde e
João Felpudo. “Pobres crianças daquele tempo! Não tinham nada para ler”, admitia.
Os
livros que exitiam eram cheios de “literatura”, que certamente não agradava
Lobato. Ao invés de se dizer céu azul, dizia-se céu azul turqueza, ou cerlea
abobada celeste.
Embora
os primeiros livros infantis de Lobato fosse cheios de “literatura”, o escritor
foi salvo pelas crianças: “de tanto escrever para elas, simplifiquei-me,
aproximei-me do certo (que é o claro, transparente como o céu)”.
Até
meados da década de 20, Lobato ainda não se decidira a realizar a grande obra
que viria a ser o Sítio. Mas tinha uma coceiras: “Ando com idéias de entrar por
esse caminho: livros para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei.
Bichos sem graça. Mas para as crianças um livro é todo um mundo. Lembro-me de
como vivi dentro do Robinson Crusoe do Laemmert. Ainda acabo fazendo livros
onde nossas crianças possam morar, como morei no Robinson e n’Os Filhos do
Capitão Grant”.
Coçou-se
em 1934. Foi quando a editora Nacional lançou Reinações de Narizinho, reunindo
num só volume todas as histórias pequenas do sítio que já haviam sido
publicadas. Lobato fez os ajustes, revisou, e entusiasmou-se: “Estou gostando
tanto que brigarei com quem não gostar”. E começou a vir a idéia de transformar
o Sítio numa série contínua, um “rocambole infantil”, como ele chamava. Os
rocamboles eram romances franceses, famosos por estender a história por volumes
e mais volumes.
O
escritor pretendia levar a turma do sítio para uma viagem ao céu e se ria,
imaginando a tia Nastácia metida no embrulho, sem nada entender.
Mas
Lobato ainda estava envolvido com o petróleo, andava entretido com as gentes
grandes. Quando foi preso, desistiu delas. Voltou-se completamente para os
pequenos.
Publicou,
então, dezenas de livros. Entre eles, História do Mundo para Crianças, que fez
com que um padreco da década de 50 acusasse Lobato de comunista. Tudo isso
porque o livro explicava o surgimento do universo e da espécie humana segundo
os conceitos científicos. Para o venerável sacerdote, dizer que o homem que
conhecemos hoje é resultado de uma evolução milenar era sinônimo de comunismo.
O sacerdote também achava comunista e anti-cristão o fato das histórias de
Lobato não terem lição de moral...
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