Lobato
escreveu uma carta ao presidente Getúlio Vargas denunciando as sabotagens do
Conselho Nacional de Petróleo e sugerindo uma ação decisiva do governo em favor
do petróleo nacional. O que conseguiu com isso? Ser preso por injúria ao
presidente.
Como
o escritor havia pedido passaporte para tratar da publicação de seus livros na
Argentina, o militar que dirigia o Conselho Nacional de Petróleo concluiu que
ele pretendia fugir e, com esse argumento, mandou prendê-lo até o julgamento.
Outra acusação era de que a companhia de Lobato era patrocinada por
organizações internacionais. Como prova anexaram ao processo duas cartas de
estrangeiros. Uma era de um engenheiro uruguaio que felicitava o escritor pelo
lançamento do livro O Poço do Visconde.
Outra era um cartão de natal assinado por um tal de Merry Christmas (Feliz
natal), o que demonstra a burrice dos militares.
Lobato
ficou seis meses na prisão, junto com assassinos e ladrões. Quando saiu,
escreveu uma carta ao general Goes Monteiro (que mandara prendê-lo) agradecendo
pela estadia: “É profundamente reconhecido que venho agradecer V. Excia. o
grande presente que me fez, por intermédio do augusto Tribunal de Segurança, de
uns tantos deliciosos e inesquecíveis dias passados na Casa de Detenção desta
cidade. Sempre havia sonhado com uma reclusão dessa ordem, durante a qual eu
ficasse forçadamente a sós comigo mesmo e pudesse meditar sobre o livro de
Walter Pitkin (Uma Pequena Introdução para a História da Estupidez Humana)”.
Mas,
afinal, qual era esse mistério todo que envolvia o petróleo brasileiro? Por que
todos que se envolviam com o assunto eram misteriosamente “acidentados”,
“suicidados”, ou iam passar uns tempos na prisão? Por que os poços eram
sistematicamente boicotados, quando não sabotados pelas entidades
governamentais que deveriam apoiá-los?
Lobato
descobriu a resposta quando uma amigo seu foi ao Rio de Janeiro visitar as
companhias de petróleo cariocas. Procurando, deu com o endereço de uma
companhia desconhecida. Era uma distribuidora de gasolina da Standar Oil. Quem
o recebeu foi um diretor, que se alegrou em encontrar alguém das companhias
brasileiras, para os quais precisava contar umas verdades:
-
Vocês partem do ponto de vista de que o petróleo é um negócio nacional, de cada
país. Não é. O petróleo é um negócio internacional da Standar. Ela criou esse
negócio no mundo e o mantém contra tudo e contra todos. Contra a vontade da
Standard país nenhum tira petróleo que haja em suas terras.
Contou
também que os melhores campos petrolíferos já estavam sendo estudados e
comprados pela Standard. Na época os EUA era um dos principais produtores
mundiais de petróleo e o Brasil um grande comprador. Não interessava, portanto,
que o petróleo brasileiro fosse descoberto. Era mais negócio ir comprando as terras
e esperar até que o petróleo americano acabasse para começar a tirá-lo do
Brasil. Todos os principais funcionários do Conselho Nacional de Petróleo
recebiam soldo da Standard para evitar que o Brasil descobrisse seu petróleo.
Com
isso, até Lobato desistiu. Estava desconsolado, triste com a vida. Para
esquecer, traduzia: “A tradução é minha pinga. Traduzo como o bebedo bebe: para
esquecer, para atordoar. Enquanto traduzo, não penso na sabotagem do petróleo”.
O
motivo para continuar vivendo, encontrou-o nas crianças. “Ah, Rangel, que
mundos diferentes, o do adulto e o da criança! Por não compreender isso e
considerar a criança como ‘um adulto em ponto pequeno’ é que tantos escritores
fracassam na literatura infantil e um Andersen fica eterno”, escreveu ele ao
amigo.
Dedicou-se
à saga do Sítio do Pica Pau Amarelo.
Sem comentários:
Enviar um comentário