terça-feira, julho 09, 2019

Monteiro Lobato: Revolução Editorial




            Lobato foi o homem das revoluções. O arranco que deu na indústria livreira nacional foi uma delas. As outras foram a luta pelo petróleo e a literatura infantil. Antes dele não existia a literatura como atividade comercial. Escrevia-se para entrar na Academia, para se tornar imortal. Para isso, escrevia-se numa linguagem empolada que tinha como objetivo não agradar ao leitor, mas fazer gênero.
            O criador do Sítio odiava isso. “A desgraça da maior parte dos livros é o excesso de literatura”. Com isso ele se referia à terrível mania de escrever carro de Apolo, ao invés de Sol.
            É esse um dos traços mais modernistas de Lobato. Ele também abre caminho para o modernismo ao romper com a literatura açucarada, comum no Brasil do início do século. Uma literatura para moças, na qual não cabiam cenas mais fortes. Era um eterno pisar em ovos para não afetar a sensibilidade do leitor. É por horror a isso que Urupês tem tantas mortes.
            À noite, quando todos os literatos se reuniam nos salões elegantes para conversar sobre os sonetos de Olavo Bilac, Lobato encontrava-se com os amigos no Café Guarani para tomar um chope. Nenhum deles sabia que o companheiro de copo era escritor. Certa vez um deles pergunto-lhe:
            - É verdade, Lobato, que você tem um livro? Ouvi dizer.
            O escritor gargalhou: “Se eu tivesse um livro, Gama, punha-o num sebo. Não tolero livros, nem gente que escreve livros”.
            Mas, apesar dessa horror à literatura oficial, Lobato ia se firmando no gosto popular e se tornando um dos escritores mais conhecidos do Brasil. O que fosse lançado com seu nome vendia. Sem tempo, ele era obrigado a lançar mão de coisas antigas, do tempo do minarete e do promotorado em Areias. De novo mesmo, só os infantis: Narizinho Arrebitado, O Saci...
            Por esses tempos a convivência com as gentes da cidade haviam-no convencido que o melhor que tínhamos no Brasil era mesmo o tal do Jeca Tatu que ele tanto desancara em Urupês. Se o Jeca não produzia, era porque não tinha segurança (podia ser expulso da terra a qualquer momento) e porque tinha a barriga repleta de vermes. As condições de higiene no campo eram precárias e o local se tornava próprio para o alastramento de doenças.
            Lobato escreveu vários artigos para O Estado de São Paulo, chamando atenção para o problema. Atacou até pelos quadrinhos. Até alguns anos era distribuído nas casinhas do interior o Almanaque Fontoura, com a história em quadrinhos do Jeca-tatuzinho. A HQ, baseada num texto de Lobato, orientava os caboclos a usar sapato e tomar medidas básicas de higiene, como lavar as mãos após defecar.
            Resultado: o público passou a pensar que Lobato era um médico sabidíssimo. Tanto que, certa noite, às altas horas, telefonaram para sua casa:
            - É o doutor Monteiro Lobato?
            - Sim.
            - Doutor, minha mulher está sentido dores. Poderá vir atendê-la?
            Lobato teve de explicar que não era médico....

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