No início da década de 1980, Frank Miller era o
grande nome dos quadrinhos americanos. Depois de salvar a revista do Demolidor
do cancelamento, transformando-a num campeão de vendas, ele foi contratado para
a DC Comics na qualidade de astro.
Seu primeiro trabalho para a editora, Ronin,
foi aplaudido pela crítica, fez sucesso e abriu as portas para a invasão dos
mangás, mas não chegou a ser algo bombástico. O grande sucesso mesmo viria com
a minissérie Batman - Cavaleiro das Trevas, de 1986.
Cavaleiro das Trevas foi um arrasa-quarteirão
que mudaria para sempre a história dos quadrinhos de super-heróis, a começar
pelo formato de luxo em que foi lançado, chamando atenção dos leitores adultos
e da imprensa.
A história se passa em um futuro em que os
super-heróis foram proibidos. Aposentado após a morte de seu parceiro Robin,
Bruce Wayne é um homem amargurado pelos fantasmas do passado e pela percepção
de que a cidade que protegeu durante anos está se transformando em um completo
caos de violência urbana.
Sua volta à ação marca também o retorno dos
vilões Duas Caras e Coringa e a tensão com o Super-homem, o único herói com
autorização para agir.
Miller foi revolucionário em tudo, a começar
pela forma de contar a história, usando e abusando das elipses. Elipses são
pulos na narrativa, partes não mostradas pelo quadrinistas e que são
completadas pelo leitor. Os quadrinhos usam as elipses o tempo todo: o
personagem se levanta da cadeira, no quadro seguinte está na porta de casa:
todo o trajeto entre uma ação e outra é completado pela imaginação do leitor.
Miller levou o recurso a patamares nunca explorados em especial na sequência em
que o Batman volta à ação: o leitor nunca vê o herói, e sim as consequências de
sua ação. Quando ele finalmente surge é numa grandiosa splash page, de enorme
impacto.
Outra revolução de Miller foi introduzir
quadros televisivos como elementos narrativos. Quando vemos Batman pela
primeira vez, por exemplo, as telas mostram pessoas comuns comentando sua
aparição. Além disso, a narrativa televisiva muitas vezes ajudando o leitor a
entender as elipses – exemplo disso é a mulher cuja bolsa é revistada pela
gangue mutante e que sai feliz ao descobrir que não foi roubada – na sequência,
uma jornalista informa: “Mulher explode numa estação de metrô! Noticiário
completo às onze...”.
As telas de televisão também funcionam como um
acréscimo de aprofundamento ao mostrar debates sobre a ação do herói. É nesses
inserts que Miller irá colocar uma das questões mais interessantes da obra:
seriam os vilões uma consequência dos super-heróis? Ou seria o contrário? A
obra não dá respostas fáceis, deixando muito mais perguntas que certezas.
Outra inovação de Miller foi mostrar o Batman
como alguém que capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos –
inclusive usar uma criança como aliada no combate ao crime ou torturar um
bandido para conseguir uma informação. Maníaco? Visionário? Herói? Vilão? Junto
com A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, Cavaleiro das Trevas
transformou o Batman em um herói tridimensional, um dos mais complexos do
universo DC.
Miller continuou sua abordagem sobre o
personagem em uma outra série, Batman ano um, com desenhos de David
Mazzuchelli, em que contava os primeiros anos do herói.
Como resultado, Batman se tornou o herói mais
popular da época, uma verdadeira mania, com várias revistas derivadas e
especiais.
No Brasil, Cavaleiro das Trevas foi a obra que
inaugurou a era das graphic novels. O sucesso da série fez com que a Abril
lançasse várias outras minisséries de luxo e até uma coleção, Graphic Novel,
apenas com histórias fechadas, em papelo gouchê.
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